Das polêmicas, a Bienal

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A 31ª Bienal de Arte de São Paulo traz à sociedade, já em seu título, uma provocação: Como (…) coisas que não existem. O espaço que está entre “como” e “coisas” sugere ao visitante analisar e refletir, por exemplo, como trabalhar, criar, falar, fazer, inventar, enfim, além do pensamento comum.

Diferentemente de outras edições, a 31ª Bienal convoca o visitante a ocupar o Pavilhão, que teve seu espaço dividido em três partes: parque, rampa e colunas. Além disso, apresenta muitas obras em vídeo, o que requer mais tempo dentro da mostra.

As quase 250 obras reunidas no Pavilhão Ciccillo Matarazzo da Bienal, no Parque do Ibirapuera, nos coloca, novamente, diante de questões políticas, sociológicas, religiosas, econômicas e ecológicas.

Inicialmente, a polêmica surge antes da própria abertura da exposição, quando uma carta de rejeição ao apoio financeiro de Israel à Fundação Bienal – no valor de R$ 90 mil –publicada no Facebook, assinada por 55 artistas e 86 participantes, dizia:

“Carta aberta à Fundação Bienal de São Paulo,

Nós, os artistas abaixo assinados participantes da 31 Bienal fomos confrontados, às vésperas da abertura da exposição, com o fato de que a Fundação Bienal de São Paulo aceitou dinheiro do Estado de Israel e o logo do Consulado de Israel aparece no pavilhão da Bienal, em suas publicações e em seu website.

Numa época em que o povo de Gaza volta para os escombros de suas casas, destruídas pelo exército israelense, não sentimos que seja aceitável receber patrocínio cultural israelense. Ao aceitar esse financiamento, o nosso trabalho artístico exibido na exposição é prejudicado e, implicitamente, usado para legitimar agressões e violação do direito internacional e dos direitos humanos em curso em Israel. Rejeitamos a tentativa de Israel de se normalizar dentro do contexto de um grande evento cultural internacional no Brasil.

Com essa declaração, nós apelamos à Fundação Bienal de São Paulo para recusar esse financiamento e agir sobre esse assunto antes da abertura da exposição.”

A Fundação, por sua vez, concordou em não aceitar o financiamento.

O Pavilhão, as obras e os artistas

Iniciada em 6 de setembro, os curadores estrangeiros Charles Esche, Galit Eilat, Nuria Enguita Mayo, Oren Sagiv, e Pablo Lafuente convocarampara a mostra artistas que trazem ao atual momento discussões pertinentes.

Nomes como, Marta Neves, Ana Lira, Danica Dakic, Creando, Qiu Zhijie, Éder Oliveira e León Ferrarisão destaque nesta edição,em queos conflitos ideológicos e sociais estão fortemente presentes em suas obras.

O grupo Electra… e León Ferrari, traz uma instalação que une política, religião e economia em Errar de Deus. A obra sugere aos visitantes que tenham um diálogo aberto com Deus, associando em seu ambiente elementos intrinsicamente ligados à política, religião, economia e às diversas culturas mundiais, desde o imperialismo norte-americano às guerras do século XX.

Destaque também à instalação da artista israelense Yael Bartana, que marcou a abertura da exposição. O vídeo, nomeado “Inferno”, com 22 minutos de duração, simula a implosão do Templo de Salomão em São Paulo. Segundo a artista, a necessidade de simular a destruição surgiu quando soube que o Pastor Edir Macedo construía, em agosto, uma terceira versão do templo.

O que a artista questiona, então, é a construção do templo nos dias de hoje. Já que os dois primeiros templos foram destruídos em 584 a.C. e 64 d.C., surgindo, em seguida, o Muro das Lamentações, mas não sugere que esse seja o destino do que está em São Paulo.
Apesar de todas as abordagens, polêmicas ou não, a Bienal deste ano não tem tema específico, portanto é possível extrair inúmeras conclusões. Os curadores viajaram pelo Brasil e pelo mundo em busca de novas linguagens, apostando que uma nova visão possibilita pensar de um jeito novo. E nessa edição, essas perspectivas não podem ser percebidas se não houver também a contribuição do todo, dos próprios visitantes.
Quando: de 6 de setembro a 7 de dezembro
Horários de visitação: terça, quinta, sexta, domingo e feriados: das 9h às 19h; quarta e sábado: das 9h às 22h; fechado às segundas
Onde: Pavilhão da Bienal (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, parque do Ibirapuera
Quanto: de graça