Zezão

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Biografia

Zezão (São Paulo, SP, 1971)

Zezão, também conhecido como José Augusto Amaro Handa, é artista plástico, grafiteiro e fotógrafo, ele se destacou a partir da década de 1990 por levar o grafite para lugares invisíveis e inusitados da cidade: galerias pluviais, esgotos, fábricas abandonadas e espaços urbanos degradados. Desde 1995, realiza intervenções subterrâneas em São Paulo, sendo considerado pioneiro na prática.

A assinatura mais marcante de sua obra são as intervenções gráficas em azul intenso, conhecidas como flops, formas orgânicas e caligráficas que se expandem como rios subterrâneos ou raízes urbanas. Esses desenhos, realizados muitas vezes em locais de difícil acesso e invisíveis ao olhar cotidiano, refletem sua proposta de transformar a marginalidade e o abandono em poesia visual. Os primeiros flops nasceram da derivação das letras do grupo “Vício Pif Dst”, transformando a caligrafia urbana em gestos abstratos.

Com o tempo, Zezão passou a ocupar também o espaço institucional, expondo em galerias, museus e centros culturais no Brasil e no exterior, consolidando-se como um dos principais representantes da arte contemporânea urbana. Sua presença foi amplificada ainda nos anos 2000 graças ao Fotolog, plataforma que contribuiu para a difusão de sua obra e o aproximou de curadores e galeristas.

Infância e juventude

Zezão nasceu em São Paulo, em 1971, e cresceu em meio às contradições da maior metrópole brasileira. Vindo de uma família de origem humilde, vivenciou de perto as dificuldades materiais e sociais da periferia paulistana. Desde cedo, encontrou nas ruas um espaço de liberdade e convivência, cultivando um espírito de resistência e criatividade.

Durante a juventude, o skate foi sua grande paixão. Mais do que um esporte, era uma forma de expressão e pertencimento, que o inseria em um universo de movimento, velocidade e cultura urbana. Porém, aos 24 anos, um acidente interrompeu de forma abrupta essa prática. A impossibilidade de continuar no skate o levou a buscar novos caminhos para canalizar sua energia criativa.

Essa transição seria decisiva para sua vida: da mesma forma que as ruas foram espaço para o skate, agora se transformariam no suporte para sua arte.

Primeiros passos na arte

O grafite entrou em sua vida em 1995, graças ao incentivo do amigo Binho Ribeiro, figura fundamental da cena do grafite em São Paulo. Inspirado também pelos trabalhos já reconhecidos de Os Gêmeos, Zezão começou a experimentar a pintura em muros, inicialmente no quintal de Binho, em produções colaborativas e improvisadas.

Entre 1995 e 1998, dedicou-se ao grafite de estilo tradicional, inspirado na estética norte-americana: tags, bomb letters e wildstyle. Apesar de praticar intensamente e treinar sozinho, ainda enfrentava dificuldades técnicas com proporção, sombra e perspectiva. Essa limitação, no entanto, se transformaria em um gatilho criativo.

Ao entrar em contato com a obra do artista nova-iorquino Jean-Michel Basquiat, Zezão encontrou a inspiração para romper as amarras formais do grafite clássico. A partir de Basquiat, ele percebeu que a arte podia ser feita de emoção, instinto e liberdade, sem a necessidade de obedecer a regras rígidas. Foi nesse momento que seu trabalho começou a adquirir contornos únicos, com formas orgânicas, gestuais e abertas.

Ele mesmo descreveu esse processo como um rompimento: ao pintar uma tela no chão com uma vassoura, percebeu que poderia se expressar pela emoção mais do que pela técnica. Essa descoberta libertadora foi o início de sua identidade artística.

O Moinho Matarazzo e o contato com a marginalidade

No final dos anos 1990, a repressão policial ao grafite em São Paulo tornava difícil a ocupação das ruas. Nesse contexto, Zezão buscou refúgio em espaços abandonados e pouco vigiados. Foi assim que encontrou o Moinho Matarazzo, antiga fábrica desativada na cidade, que se tornara moradia de travestis, usuários de drogas e moradores de rua.

Esse espaço decadente, cheio de paredes em ruínas, ofereceu ao artista não apenas liberdade para pintar, mas também uma atmosfera carregada de histórias e significados. No Moinho, Zezão desenvolveu uma relação profunda com o lado marginal da cidade. Ali, começou a criar seus primeiros flops, formas azuis que emergiam como um contraponto poético em meio à destruição e ao abandono.

O Moinho foi o laboratório em que amadureceu sua estética, levando-o a compreender que sua arte estava destinada a ocupar lugares esquecidos e invisíveis, em diálogo com a realidade dos excluídos.

A descoberta do subterrâneo

No início dos anos 2000, sua busca por territórios invisíveis o levou a descer para as galerias pluviais subterrâneas de São Paulo. O primeiro espaço explorado foi o córrego Cabuçu de Baixo, canalizado sob a Avenida Inajar de Souza, na Zona Norte.

O subterrâneo oferecia tudo o que buscava: silêncio, paredes virgens, ausência de vigilância e, sobretudo, uma atmosfera de abandono e invisibilidade. Ali, Zezão começou a pintar suas formas azuis, que passaram a simbolizar um rio subterrâneo que corre sob a cidade.

Ao mesmo tempo, percebeu que precisava compartilhar essas obras, inacessíveis ao público. Foi então que se dedicou à fotografia como meio de documentar e expandir sua arte. Investiu em equipamentos, aprendeu técnicas de luz e composição e, mais tarde, passou também ao vídeo. Dessa forma, suas incursões subterrâneas ganharam registro e circulação, permitindo que a arte invisível pudesse ser vista em exposições e publicações.

Para o artista, o subterrâneo não era apenas cenário, mas metáfora. Como ex-motoboy que conhecia de perto as dificuldades da vida urbana, Zezão se identificava com os córregos transformados em lixo pela urbanização descontrolada. Seus grafites eram, ao mesmo tempo, uma intervenção estética e uma forma de dar voz a um espaço negligenciado.

Estilo e linguagem artística

A obra de Zezão se consolidou em torno dos flops azuis, formas orgânicas que se expandem como caligrafias abstratas, lembrando rios, raízes ou organismos vivos.

O azul, escolhido como cor principal, funciona como elemento simbólico e poético. Ele contrasta com o cinza da sujeira e da decadência dos subterrâneos, funcionando como metáfora da vida que resiste onde menos se espera. O azul de Zezão é também um gesto de esperança e de transcendência, algo que ilumina o espaço escuro e esquecido.

Seu processo de criação é marcado pela improvisação e pelo uso de ferramentas não convencionais, como vassouras e pincéis improvisados. O gesto, a fluidez e a espontaneidade são mais importantes do que a simetria ou a técnica formal.

Por isso, muitos críticos classificam sua obra como pós-grafite, uma arte que nasce da cultura do hip hop, mas a ultrapassa, aproximando-se da pintura abstrata, da arte contemporânea e da instalação.

Carreira e reconhecimento

O reconhecimento de Zezão começou em 2004, quando foi convidado para a exposição inaugural da Galeria Choque Cultural, em São Paulo. A mostra coletiva Calaveras, dedicada ao Dia dos Mortos, marcou o início de sua parceria com a galeria.

Em 2005, apresentou sua primeira exposição individual, Subterrâneos, que consolidou sua identidade artística. No mesmo ano, participou também da coletiva Cata Lixo, ampliando sua visibilidade.

Em 2006, integrou a troca entre a Choque Cultural e a Galeria Fortes Vilaça, além de participar da exposição Spray – o novo muralismo latino-americano, no Memorial da América Latina.

Em 2007, estreou internacionalmente na Jonathan Levine Gallery, em Nova York, na mostra Ruas de São Paulo. No mesmo ano, participou da exposição Fabulosas Desordens, na Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro, apresentou sua segunda individual, Cidade Limpa, e integrou o projeto Coleções 8 na Galeria Luisa Strina, ao lado de nomes como Adriana Varejão e Marepe.

Em 2008, expandiu ainda mais sua presença internacional, participando de quatro mostras importantes: Fresh Air Smells Funny (Hamburgo), Namesfest (Praga), Psychedelic Brasil (Londres) e Festival della Creativitá (Florença). Nesse mesmo ano, realizou sua terceira individual na Choque Cultural, Zezão Fotógrafo.

Em 2009, levou sua obra a Los Angeles, Bremen e Paris, além de participar de importantes coletivas no Brasil. Desde então, sua carreira internacional se consolidou, com participações em mostras e residências artísticas em diferentes países, enquanto continuava a produzir e expor no Brasil.

Fotografia e assemblage

A fotografia se tornou parte inseparável de sua obra. Mais do que registro, as imagens de Zezão revelam a atmosfera dos subterrâneos, explorando luz, sombra e composição de forma autoral.

Ele também passou a produzir trabalhos de assemblage, utilizando objetos encontrados em seus percursos pelos subterrâneos e ruínas urbanas. Essa prática reforça sua relação com o lixo e com a ideia de reaproveitamento, ampliando sua presença na arte contemporânea.

Legado e importância

Zezão é reconhecido como um dos pioneiros da arte urbana subterrânea. Sua obra representa um diálogo entre margens: entre o visível e o invisível, o limpo e o sujo, o centro e a periferia, a rua e o museu.

Ao transformar os subterrâneos de São Paulo em verdadeiras galerias de arte invisíveis, ele questiona os limites do espaço expositivo e propõe novas formas de pensar a cidade.

Mais do que um grafiteiro, Zezão é um cronista visual da metrópole invisível. Suas formas azuis funcionam como rios poéticos que correm sob a cidade, conectando memória, resistência e esperança. Sua obra, tanto nas ruas quanto nas galerias, segue inspirando novas gerações de artistas urbanos e consolidando sua posição como um dos nomes mais relevantes da arte contemporânea brasileira.

Exposições Individuais

2005 - São Paulo SP - Subterrâneos, na Choque Cultural
2007 - São Paulo SP - Cidade Limpa, na Choque Cultural
2008 - São Paulo SP - Zezão Fotógrafo, na Choque Cultural

Exposições Coletivas

2003 - São Paulo SP - Painel coletivo na fachada do prédio, no MAC USP
2004 - Americana SP - Coletivo Rua, no MAC
2004 - São Paulo SP - Calaveras, na Choque Cultural
2005 - São Paulo SP - Cata Lixo, na Choque Cultural
2006 - São Paulo SP - Choque Cultural na Fortes Vilaça
2006 - São Paulo SP - Spray – o novo muralismo latino-americano, no Memorial da América Latina
2007 - New York (EUA) - Ruas de São Paulo, na Jonathan Levine Gallery
2007 - Rio de Janeiro RJ - Fabulosas Desordens, na Caixa Econômica Federal
2007 - Brighton (UK) - Cor da Rua, na OContemporary Gallery
2007 - São Paulo SP - Expo fotográfica Coleções 8, na Galeria Luisa Strina
2008 - Hamburgo (Alemanha) - Fresh Air Smells Funny, no Museu Kunsthalle Dominikanerkirche
2008 - Praga (República Tcheca) - Namesfest, na Trafkca
2008 - London (UK) - Psychedelic Brasil, na Pure Evil Gallery
2008 - Florença (Itália) - Festival della Creatività, instalação
2009 - Los Angeles (EUA) - São Paulo, no Scion Space
2009 - São Paulo SP - Caligrafia, na Galeria Choque Cultural
2009 - Bremen (Alemanha) - Urban-Art Collection, na Reinking Weserburg
2009 - Paris (França) - Une Estivale, na Galerie L.J

Veja também