Théo Tobiasse

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Biografia

Théo Tobiasse (Israel 1927, França 2012)

Théo Tobiasse foi um pintor, gravador, ilustrador e escultor francês de origem judaica. Sua vida e obra foram profundamente marcadas pelas experiências de exílio, pela memória do Holocausto e por uma busca constante de luz, espiritualidade e erotismo na arte. Falecido em 3 de novembro de 2012, em Cagnes-sur-Mer, deixou um legado multifacetado, que se estende da pintura à escultura, dos vitrais às litografias, e o consagrou como um dos grandes nomes da arte do século XX.

Juventude e formação

Théo Tobiasse nasceu em Jaffa, na então Palestina do Mandato Britânico, filho mais novo de Chaïm (Charles) Eidesas e Brocha (Berthe) Slonimsky, judeus originários de Kaunas, na Lituânia. Seus pais haviam emigrado em 1925, mas, diante das dificuldades materiais, regressaram primeiro à Lituânia e, em 1931, instalaram-se em Paris, onde o pai encontrou trabalho como tipógrafo em uma gráfica russa.

Desde cedo, Tobiasse demonstrou interesse pelo desenho e pela pintura. Em 1937, uma visita à Exposição Internacional de Artes e Técnicas na Vida Moderna, em Paris, marcou-o profundamente. Ali, encantou-se com a monumental obra La Fée Électricité, de Raoul Dufy, experiência que o fez sonhar com a vida artística.

Sua infância, no entanto, seria atravessada por tragédias. Em 1939, perdeu a mãe. Pouco depois, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a ocupação nazista, foi obrigado a usar a estrela amarela e teve sua inscrição recusada na Escola Nacional de Artes Decorativas por ser judeu. Em julho de 1942, sua família escapou por pouco da prisão em massa no Velódromo d’Hiver, passando dois anos escondida em Paris até a libertação em 1944. Esses traumas — perseguição, exílio e perda — tornaram-se elementos centrais de sua obra.

Após a guerra, matriculou-se em um curso de desenho publicitário no Boulevard Saint-Michel, mas abandonou os estudos formais para trabalhar. Atuou como designer gráfico na gráfica Draeger, criou tapeçarias, cenários e vitrines luxuosas para a Hermès e, em seguida, trabalhou também na agência Havas. Em 1950, obteve a nacionalidade francesa e mudou-se para Nice, em busca de luz e de céu aberto após os anos sombrios da guerra.

Primeiras exposições e afirmação como pintor

Em 1960, apresentou suas primeiras telas no Salon des Peintres du Sud-Est. No ano seguinte, recebeu o Prêmio de Pintura Jovem Mediterrânea e o Prêmio Dorothy-Gould, o que atraiu a atenção da crítica. Assinou contrato com a Galerie Drouant, em Paris, onde realizou sua primeira grande exposição individual em 1962, e em 1968 teve sua estreia em Nova Iorque. A partir desse momento, abandonou a publicidade para dedicar-se integralmente às artes visuais.

Autodidata, Tobiasse formou-se estudando os mestres nos museus. Em especial, A Noiva Judia de Rembrandt lhe revelou técnicas de relevos e cores que influenciaram sua obra.

Suas primeiras criações eram figurativas, com temas simples como gatos, pássaros e velocípedes — experimentos técnicos em obras como Le Vélocipède (1959), Le Chat de Vence (1961) e L’Oiseau rouge (1964). A partir da década de 1960, passou a revisitar suas memórias da guerra e do Holocausto, incorporando o trem como símbolo de viagem e deportação, como em Foi en 42, le train du 16 juillet (1965).

Expansão internacional e novos caminhos

Nos anos 1970, Tobiasse conquistou projeção internacional. Uma viagem a Jerusalém, em 1970, aproximou-o de suas raízes espirituais. Criou seus primeiros vitrais, dedicados às festividades judaicas, para o Centro Comunitário Judaico de Nice, e em 1982 pintou a monumental tela Que tes tentes sont belles, ô Jacob.

Suas viagens continuaram a nutrir sua arte: o jazz de Nova Orleans, os sítios mexicanos, os totens ameríndios. Nos Estados Unidos, aproximou-se de Elie Wiesel. Em 1977, Josy Eisenberg realizou o documentário Dis-moi qui tu peins, exibido na televisão francesa. Em 1983, uma retrospectiva no Musée d’Art Moderne de Nice consolidou sua reputação.

Expandiu técnicas explorando litografia, cerâmica, gravura em carborundum, vitrais e escultura. Em Saint-Paul-de-Vence, onde fixou residência em 1976, construiu um ateliê e colaborou com o litógrafo Pierre Chave, criando edições em até vinte cores. Entre suas publicações estão Songs of Songs (1975), Paris, Fleur de Bitume e Parfum d’Odalisque (1982).

Três eixos temáticos estruturaram sua produção: a memória judaica e o exílio, as cidades que amava — Paris, Jerusalém, Nova Iorque e Veneza —, e a mulher, como figura bíblica ou musa erótica. Obras como Tu m’as fait découvrir en toi les ombres de la chair (1977) exemplificam sua exploração poética da sensualidade.

O período americano

Em 1984, incentivado pelo marchand Kenneth Nahan, Tobiasse mudou-se para Nova Iorque. Instalou-se no Hotel Chelsea e, depois, em um estúdio em Manhattan, dividindo-se entre a metrópole americana e Saint-Paul-de-Vence.

Nos Estados Unidos, sua pintura tornou-se mais luminosa e expansiva. Obras como L’Amérique (1984) celebram a chegada dos imigrantes e a esperança de novos começos. Criou também esculturas, como Myriam, modelo da monumental Vénus instalada em 2007 em Saint-Paul.

Na França, explorou acrílico, colagem e pastel em telas, painéis de madeira e aço recortado. Realizou obras públicas de grande escala, como os vitrais e esculturas da Capela Saint-Sauveur, em Le Cannet, o tríptico La vie est une fête (1989) e os vitrais monumentais Le Chant des Prophètes (1993), para a sinagoga de Nice.

Viajou intensamente para exposições no Japão, Taiwan, Praga e Veneza. Nessas viagens, preenchia cadernos de desenho, mais tarde publicados em fac-símiles como Les Venise de Tobiasse (1992). Seu ateliê em Saint-Paul tornou-se ponto de encontro de artistas e intelectuais, como Chaïm Potok, que lhe dedicou uma monografia, e James Baldwin, que o visitava frequentemente.

Últimos anos e legado

Na virada do milênio, Tobiasse voltou às suas origens. Em 1999, viajou a Israel, revisitando Jerusalém e Jaffa. Em 2000, o Museu de Belas Artes do Palais Carnolès, em Menton, organizou uma grande retrospectiva de sua carreira. Pouco antes, em 1992, já havia sido homenageado com uma mostra no Château-Musée de Cagnes-sur-Mer.

Nos anos seguintes, publicou fac-símiles de seus diários e cadernos, reunidos em Les Carnets de Saint-Paul-de-Vence (2007), e uma edição ilustrada do Cântico dos Cânticos (2009). Essas publicações revelam o artista íntimo, poeta e cronista de si mesmo.

Théo Tobiasse faleceu em 3 de novembro de 2012, em Cagnes-sur-Mer, aos 85 anos. Recebeu homenagens oficiais do governo francês e da cidade de Nice, que reconheceram sua importância para a arte contemporânea.

Comentário crítico

A obra de Théo Tobiasse é atravessada por tensões e contrastes. De um lado, a memória dolorosa do Holocausto e do exílio; de outro, a explosão de cores, o erotismo e a celebração da vida. Sua pintura é ao mesmo tempo íntima e universal, dialogando com a experiência judaica e com os grandes temas da humanidade: sofrimento, fé, amor, desejo e liberdade.

Chaïm Potok o definiu como um “artista no exílio”, capaz de transformar o trauma em poesia visual. Críticos franceses e americanos destacam como sua obra combina narrativa pessoal e imaginação cosmopolita, garantindo-lhe um lugar singular na pintura do pós-guerra.

Suas obras monumentais em vitrais, esculturas e telas permanecem em espaços públicos e coleções particulares no mundo todo, testemunhando a força de sua busca pela luz. Tobiasse é lembrado como um criador multifacetado, que fez da memória um caminho para a beleza e a liberdade.

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