Shoko Suzuki (1929)
Shoko Suzuki é uma ceramista e artista plástica nipo-brasileira de importância ímpar na história da cerâmica contemporânea no Brasil. Nascida em Tóquio, em 1929, Shoko Suzuki iniciou sua trajetória artística em sua cidade natal, realizando sua primeira exposição individual aos 26 anos, em 1955, na Galeria Ando, durante uma mostra de jovens ceramistas. Posteriormente, Shoko Suzuki expôs em importantes instituições japonesas, como a Galeria Mitsukoshi, o Museu Nacional de Tóquio e a Galeria Yoseido, consolidando sua presença no cenário artístico do Japão.
Em 1962, Shoko Suzuki decidiu se mudar para o Brasil, estabelecendo-se em Cotia, São Paulo, onde permanece até hoje. Sua chegada ao país coincidiu com um período de intensa efervescência cultural, e Shoko Suzuki rapidamente começou a reinventar sua linguagem artística. Inspirada na tradição milenar da cerâmica japonesa, em especial na técnica de queima de alta temperatura em forno noborigama, Shoko Suzuki trouxe ao Brasil um novo modo de fazer cerâmica, criando peças que combinam rigor técnico, sensibilidade poética e significado simbólico, sem limitações de linguagem.
O noborigama é um forno tradicional japonês a lenha, de origem chinesa, utilizado no Japão desde o século XVII, adaptado do forno Anagama, e construído em declive com três câmaras interligadas para otimizar a queima. Ele permite uma queima de longa duração — até 35 horas — conferindo às peças resistência, textura e tonalidades únicas, resultado da interação do fogo e das cinzas. A introdução dessa prática por Shoko Suzuki no Brasil representou uma verdadeira revolução na cerâmica artística nacional, sendo depois adotada por Akinori Nakatani em Mogi das Cruzes e difundida no núcleo de cerâmica de Cunha, com Mieko e Toshiyuki Ukeseki, Alberto Cidraes e Kimiko Suenaga, entre outros.
Além da inovação técnica, Shoko Suzuki desenvolveu uma produção marcada pelo equilíbrio entre perfeição formal e liberdade poética. Suas peças frequentemente carregam símbolos e inscrições, característica que passou a consolidar após sua mudança para o Brasil, transformando objetos utilitários em elementos de reflexão estética e espiritual. Sua obra reflete uma profunda sensibilidade e uma contínua investigação sobre o significado da cerâmica, unindo intuição, memória e saber técnico.
Shoko Suzuki começou a expor individualmente ainda no Japão, e após sua chegada ao Brasil, suas exposições individuais mais importantes incluem a Galeria Achei, em São Paulo (1968), a Galeria Bonino, no Rio de Janeiro (1976), a Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília (1984), e o Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, onde comemorou os 50 anos de carreira em 2003. Entre as coletivas, Shoko Suzuki participou de eventos no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1988 e 1996, no Centro Cultural de Campinas (1992), no Tokushima Kyodo Museum, Japão (1995), no Espaço Cultural dos Correios (2001), no Instituto Tomie Ohtake (2008), na Pinacoteca de São Paulo (2008), na Gomide&Co, São Paulo (2023) e no Instituto Tomie Ohtake, em 2024, no programa Diásporas Asiáticas.
A trajetória de Shoko Suzuki no Brasil é marcada por pioneirismo e inovação. Ela não apenas introduziu técnicas japonesas de queima, como também contribuiu para a consolidação de um padrão de excelência na cerâmica artística nacional, ampliando o horizonte conceitual das artes utilitárias e decorativas. Sua prática elevou o estatuto da cerâmica, mostrando que ela podia ser entendida como arte maior, capaz de dialogar com o público e com a tradição artística contemporânea.
O estilo de Shoko Suzuki é reconhecido pela busca incessante da perfeição formal. Cada peça é cuidadosamente planejada, modelada e queimada, resultado de uma disciplina técnica apurada, adquirida ao longo de décadas de estudo e prática. Ao mesmo tempo, suas obras carregam um caráter poético e simbólico, com inscrições e elementos visuais que evocam memórias, sentimentos e espiritualidade. Sua produção é uma síntese entre técnica, tradição japonesa e reinvenção pessoal, refletindo a experiência de uma artista que transita entre culturas e tempos distintos.
Críticos e historiadores da arte destacam que Shoko Suzuki estabeleceu um padrão de excelência na cerâmica brasileira. Sua obra representa uma discussão sobre a perfeição da forma, os limites da técnica e o alcance da arte como elemento construído a partir da intuição e do conhecimento. Para muitos, Shoko Suzuki foi uma das artistas que mais contribuíram para elevar a cerâmica ao estatuto de arte maior no Brasil, em um período em que a cerâmica ainda era frequentemente associada apenas ao utilitário ou decorativo.
Segundo registros críticos, o trabalho de Shoko Suzuki emociona pela precisão técnica e pela intensidade poética. Em sua obra, a cerâmica deixa de ser apenas matéria moldada para se tornar veículo de reflexão estética, memória cultural e espiritualidade. Shoko Suzuki combina tradição e inovação, estabelecendo um diálogo entre Japão e Brasil, entre passado e presente, entre técnica e intuição.
Até hoje, Shoko Suzuki vive e trabalha em Cotia, São Paulo, mantendo sua produção artística ativa e continuando a inspirar novas gerações de ceramistas. Sua trajetória é uma referência no estudo da cerâmica contemporânea e na compreensão das diásporas artísticas japonesas no Brasil. Por meio de sua prática, Shoko Suzuki demonstra que a arte não é apenas resultado da técnica, mas também uma forma de experiência sensível, capaz de transcender fronteiras culturais e temporais.
Em suma, Shoko Suzuki é uma artista que combina rigor técnico, sensibilidade poética e inovação, tendo construído uma obra única e influente. Sua contribuição para a cerâmica brasileira é duradoura e multifacetada, abrangendo desde a introdução de novas técnicas até a formação de um legado artístico que continua a inspirar artistas e apreciadores da arte contemporânea.