Lucy Citti Ferreira (São Paulo SP 1911 - Paris, França 2008)
Lucy Citti Ferreira foi uma renomada pintora, desenhista, gravadora e professora. Viveu parte da infância e adolescência na Itália e na França, experiências que influenciaram fortemente sua formação artística. Iniciou seus estudos em 1930 com o pintor francês Andre Chapuy, na cidade de Le Havre. Entre 1932 e 1934, frequentou a prestigiada École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, em Paris, período em que também participou do tradicional Salão das Tulherias.
Retornou ao Brasil em 1934 e, no ano seguinte, conheceu o pintor Lasar Segall, com quem passou a estudar e para quem também posou como modelo. Em 1935, recebeu menção honrosa no Salão Paulista de Belas Artes e participou do 2º Salão de Maio. Em 1938, realizou suas primeiras exposições individuais, no Instituto dos Arquitetos do Brasil, em São Paulo, e na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro.
Em 1947, voltou a morar em Paris, onde se integrou ao grupo de artistas da Galeria Jean Bouchet et Jack, ampliando sua atuação no circuito artístico europeu. Em 1954, apresentou uma importante mostra individual no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), consolidando sua trajetória no cenário artístico nacional.
Em 1988, o Museu Lasar Segall organizou a exposição "Sombras e Luzes", reunindo trabalhos produzidos por Lucy Citti Ferreira após seu retorno à Europa, destacando a força expressiva e sensível de sua obra. Ao longo de sua carreira, manteve-se fiel à pesquisa estética, com destaque para o domínio do desenho e a sutileza da luz em suas composições.
Comentário Crítico
Nascida em São Paulo, a pintora Lucy Citti Ferreira passa a infância entre Gênova e Paris, onde cursa a École Nationale Supérieure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes]. Volta com a família ao Brasil em 1935, quando, por intermédio do escritor e crítico Mário de Andrade (1893-1945), entra em contato com o pintor Lasar Segall, de quem se torna aluna e também modelo para uma seqüência de retratos. Esse contato marca profundamente sua produção do período; sua obra aproxima-se daquela de Segall, tanto no aspecto formal como em relação à temática, o que faz com que ela seja muito criticada e encontre pouca receptividade no meio artístico em sua época. Como aponta o crítico Geraldo Ferraz (1905-1979), o observador atento percebe, de fato, muitas afinidades entre a obra de Lucy Citti Ferreira e a de Segall, mas também nota que a produção do artista apresenta uma requintada gradação no uso da cor, muito controlada, ao passo que a pintora explora mais a vibração obtida pelas diversas nuances, faz uso de tonalizações e busca outro tipo de atmosfera em suas obras.
Lucy Citti Ferreira viaja novamente para a Europa em 1947, onde fixa residência. De forma geral, sua produção das décadas de 1930 e 1940 permanece esquecida no Brasil e raramente aparece em catálogos de exposições. Como nota a historiadora da arte Vera D'Horta, na França a pintora passa a produzir paisagens quase abstratas, nas quais revela um caráter introspectivo. Em 1988, realiza uma exposição em São Paulo, com obras produzidas desde a década de 1960 e reunidas em duas séries - Paisagens da Lembrança e Memória. Em algumas paisagens predominam formas sinuosas, como em Colina ao Cair da Noite (déc.1970). Já em obras da série Memória, as composições ganham verticalidade, e a artista explora a luminosidade e a transparência, evocando florestas ou ainda interiores de igrejas.
Críticas
"Lucy tem certamente um temperamento de pintora, tal como se realiza nos trabalhos a que agora chegou, pela aquisição tenacíssima e consciente de uma técnica de pintar em que encontraremos tanto o desenho quanto a composição, a cor adequada, um sentido da forma, um cuidado meticuloso na escolha do dado real, e ao contrário de uma pesquisa no plano pictórico exclusivo, uma penetração audaciosa e palpitante na essência vital do objeto plástico tematicamente formulado. O prestígio da pintura de Lasar Segall - a expressão artística mais inteiriça que se desdobrou no país este século, embora suas origens européias - não poderia deixar de influir, na formação da presente expressão plástica de Lucy Citti Ferreira. Não há mal nenhum nessa influência, nem caberá negá-la ou procurar limitá-la. Tal influência serve-nos de ponto de partida para o estudo da pintura de Lucy Citti Ferreira, pois implicou numa mudança, numa alteração das possibilidades que a moça trazia com a sua curta experiência da escola francesa".
Geraldo Ferraz
LUCY Citi Ferreira: sombras e luzes. Apresentação de Maurício Segall. Textos de Jacqueline Kiang, Mário Barata e Geraldo Ferraz. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1988. (XI Mostra do Ciclo de Exposições Momentos de Pintura Paulista).
"Na França, paulatinamente, Lucy foi passando da interpretação do figurativo humano à da paisagem. Massas e linhas delicadas surgem a representar o visível e seus ritmos que, segundo ela acentuou, devem muito na sua sensibilidade à presença do vento que ela capta em algumas obras, do mesmo modo que na paisagem muitos brancos são superfícies de neve que restam no terreno, em que a grandeza do silêncio é intrínseca à própria natureza. Em óleos recentes podem aparecer azuis fortes, que ela trata entre as manchas de luz que tanto marcam a sua índole lírica, nesta fase de paisagista. Esses óleos recentes já caminham, como ritmo e aglutinação das formas, para uma dimensão estética quase que de aquarela. Em vários deles, a sensibilidade de Lucy interpreta um tipo de diluição de formas, mesmo quando mantêm um núcleo central mais sólido".
Mário Barata
LUCY Citi Ferreira: sombras e luzes. Apresentação de Maurício Segall. Textos de Jacqueline Kiang, Mário Barata e Geraldo Ferraz. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1988. (XI Mostra do Ciclo de Exposições Momentos de Pintura Paulista).
Exposições Individuais
1945 - Rio de Janeiro RJ - Individual, na Associação Brasileira de Imprensa
1945 - São Paulo SP - Individual, no IAB/SP
1948 - Paris (França) - Individual, na Galeria Jeanne Boucher
1953 - São Paulo SP - Individual, no Masp
1969 - Anvers (Bélgica) - Individual, na Maison de Rubens
1977 - Paris (França) - Individual, no Chapelle St. Bernard de Montparnasse
1979 - Paris (França) - Individual, no Chapelle St. Bernard de Montparnasse
1988 - São Paulo SP - Sombras e Luzes, no Museu Lasar Segall
Exposições Coletivas
ca.1931 - Havre (França) - Salão do Havre
ca.1933 - Paris (França) - Salão das Tulherias e Salão Grand-Palais
1935 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Belas Artes - menção honrosa
1936 - São Paulo SP - 3º Salão Paulista de Belas Artes
1937 - São Paulo SP - 1º Salão de Maio, no Esplanada Hotel
1938 - São Paulo SP - 2º Salão de Maio, no Esplanada Hotel
1939 - São Paulo SP - 3º Salão de Maio, no Esplanada Hotel
1942 - São Paulo SP - 7º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
1943 - Rio de Janeiro RJ e São Paulo SP - Exposição de Artistas Brasileiros
1944 - Belo Horizonte MG - Exposição de Arte Moderna, no Edifício Mariana
1944 - Londres (Inglaterra) - Modern Brazilian Paintings, na Royal Academy of Arts
1944 - São Paulo SP - Exposição de Pintura Moderna Brasileira-Norte-Americana, na Galeria Prestes Maia
1944 - Norwich (Reino Unido) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Norwich Castle and Museum
1945 - Bath (Reino Unido) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na Victory Art Gallery
1945 - Bristol (Reino Unido) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Bristol City Museum & Art Gallery
1945 - Edimburgo (Reino Unido) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, na National Gallery
1945 - Glasgow (Reino Unido) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Kelingrove Art Gallery
1945 - Manchester (Reino Unido) - Exhibition of Modern Brazilian Paintings, no Manchester Art Gallery
1945 - Buenos Aires (Argentina) - Pintura Brasileña Contemporânea
1949 - Paris (França) - Artistas Latino-Americanos, na Maison Unesco
1976 - São Paulo SP - Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
2002 - São Paulo SP - Modernismo: da Semana de 22 à seção de arte de Sérgio Milliet, no CCSP
2004 - São Paulo SP - Mulheres Pintoras, na Pinacoteca do Estado
2004 - Brasília DF - O Olhar Modernista de JK, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2006 - São Paulo SP - O Olhar Modernista de JK, no MAB-FAAP
2010 - São Paulo SP - 6ª sp-arte, na Fundação Bienal
Fonte: Itaú Cultural