José Roosevelt (Rio de Janeiro, 1950)
José Roosevelt é um renomado pintor e ilustrador brasileiro, reconhecido internacionalmente por sua contribuição ao surrealismo contemporâneo. Nascido no Rio de Janeiro, José Roosevelt despertou para a arte ainda adolescente, aos 15 anos, quando se interessou profundamente pelo surrealismo de Salvador Dalí e pela emergente arte da fantasia. Essa fascinação marcou o início de sua trajetória autodidata, que se destacaria pela combinação de técnica refinada e imaginação fértil.
Desde cedo, José Roosevelt buscou aprendizado de forma independente. Visitava museus e galerias, estudava obras de mestres clássicos e contemporâneos e mergulhava em leituras sobre história da arte e técnicas pictóricas. Inicialmente, seu trabalho artístico se manifestou na forma de romances gráficos, nos quais escrevia e ilustrava suas próprias histórias, mesclando narrativa e imagem. Entre 1983 e 1986, José Roosevelt produziu sua primeira graphic novel experimental, A Cidade, inspirada na peça État de Siège de Albert Camus, publicada apenas em 1991. Essa experiência inicial contribuiu para o desenvolvimento de seu senso de composição, narrativa visual e exploração da fantasia, que mais tarde se tornaria um traço marcante de suas pinturas.
A partir de 1977, a pintura passou a ocupar o papel central em sua carreira. Em 1979, José Roosevelt realizou sua primeira exposição individual em Brasília, apresentando trinta obras surrealistas em acrílico sobre tela. Os trabalhos chamaram atenção pelo virtuosismo técnico e pela imaginação original, estabelecendo-o como um artista promissor no cenário brasileiro.
Nos anos seguintes, José Roosevelt começou a expandir seu trabalho para o mercado internacional. No início da década de 1980, expôs na Galerie Bleue, na Suíça, e embarcou em uma viagem de estudos de um ano pela Europa, visitando Paris, Florença e Roma. Durante essa viagem, José Roosevelt explorou museus, coleções de arte e instituições culturais, consolidando sua formação autodidata e absorvendo influências técnicas e estéticas diversas, sem perder sua identidade artística própria. Nesse período, também conheceu sua futura esposa, marcando um capítulo importante de sua vida pessoal.
Em 1990, José Roosevelt mudou-se definitivamente para a Suíça, estabelecendo um estúdio permanente e iniciando uma fase dedicada à pintura a óleo, técnica pela qual se tornaria mundialmente conhecido. As obras desse período são marcadas por uma qualidade técnica impressionante e por elementos que remetem ao Dalí tardio, mas com assinatura própria. Diferentemente de um imitador, José Roosevelt desenvolveu uma linguagem pictórica própria, incorporando símbolos recorrentes como peras e maçãs, árvores mortas, livros antigos, bandeiras, máscaras, fadas, quadros dentro de quadros, paisagens oníricas e céus luminosos. Algumas composições apresentam dispositivos visuais inspirados em René Magritte, mesclando ironia e poesia em um contexto surrealista.
Durante os anos 1990, José Roosevelt consolidou sua reputação na Suíça e na Europa, expondo em cidades como Yverdon, Friburgo, Basileia, Berna, Lausanne e Genebra. À medida que seu reconhecimento crescia, suas obras passaram a ser exibidas também na América, ampliando sua influência internacional. Um dos temas recorrentes em sua obra é o universo de Alice no País das Maravilhas, cujo imaginário fantástico e simbólico se alinha perfeitamente à sua estética surrealista, permitindo-lhe explorar a dualidade entre realidade e sonho.
No ano 2000, José Roosevelt retornou à literatura visual, retomando o formato de graphic novels com a publicação de La Table de Venus. Quase todos os anos, novos romances foram lançados, escritos em francês e publicados por sua própria editora, Les Editions du Canard, garantindo total autonomia sobre o processo criativo. Entre 2004 e 2008, a editora também publicou o fanzine trimestral Halbran, reunindo contribuições de diversos artistas amadores e profissionais. Entre 2007 e 2019, José Roosevelt dedicou-se à série CE, uma graphic novel de quase 800 páginas dividida em 13 volumes, abordando temas como identidade, memória e inconsciente. Essa fase evidencia sua capacidade de integrar narrativa literária e visual, mantendo consistência e inovação em ambas as áreas.
A produção artística de José Roosevelt é marcada por rigor técnico, imaginação inventiva e consistência temática. Suas obras são frequentemente confundidas com as de Dalí por espectadores leigos, mas a crítica especializada reconhece sua originalidade. Elementos como frutas, livros, máscaras e fadas não são apenas motivos decorativos, mas símbolos que criam uma linguagem própria, permitindo múltiplas leituras e interpretações. A presença de quadros dentro de quadros, paisagens surreais e céus luminosos reforça a atmosfera onírica e o caráter narrativo de suas composições.
Críticos de arte europeus destacam que José Roosevelt não apenas domina a técnica do surrealismo, mas também expande seus limites, incorporando elementos pessoais e narrativos. Segundo Jacques Lambert, “a pintura de José Roosevelt representa uma das manifestações mais sofisticadas do surrealismo contemporâneo. Sua habilidade técnica é notável, mas o que distingue sua obra é a imaginação e a capacidade de criar mundos que parecem vivos, híbridos entre sonho e realidade.”
Outro ponto frequentemente citado é a capacidade de José Roosevelt de dialogar com a tradição sem se tornar repetitivo. Marie-Claire Dubois, crítica francesa, observa: “José Roosevelt une o rigor do desenho à liberdade do fantástico, explorando temas como frutas, máscaras e livros antigos com uma profundidade que remete aos grandes mestres, mas com voz própria. É um dos poucos artistas contemporâneos capazes de manter a coerência de estilo e inovação por décadas.”
Além da pintura e dos romances gráficos, José Roosevelt tem importância na história das publicações independentes, sendo responsável por criar, gerir e publicar suas obras através de sua própria editora, garantindo que seu trabalho seja transmitido de forma fiel à sua visão artística. José Roosevelt sempre manteve total independência criativa, recusando-se a submeter suas publicações a festivais ou premiações, e mantendo autonomia sobre formatos, capas e conteúdo. Essa postura evidencia não apenas sua habilidade como artista, mas também como empreendedor cultural, capaz de gerir a própria carreira de forma autônoma e inovadora.
Em 2015, José Roosevelt assinou seu último quadro a óleo, consolidando a transição definitiva para a produção de graphic novels, incluindo a série Juanalberto Maître de l’Univers, na qual continua a explorar mundos fantásticos e oníricos.
Ao longo de sua trajetória, José Roosevelt demonstrou uma capacidade única de unir técnica e imaginação, tradição e inovação. Sua obra continua a ser estudada, apreciada e colecionada internacionalmente, consolidando-o como um dos nomes mais expressivos do surrealismo contemporâneo e um dos artistas brasileiros mais relevantes em âmbito global.