Jair Glass

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Jair Glass - Os Avisos Não Vão Evitar

Os Avisos Não Vão Evitar

óleo sobre placa197725 x 20 cm
Leilão de Arte Online

Biografia

Jair Glass (São Paulo, SP 1948)

Jair Glass é desenhista e artista visual brasileiro. Com mais de cinco décadas dedicadas ao desenho, Jair Glass consolidou uma das obras mais singulares da arte brasileira contemporânea, marcada por uma imagética poderosa e profundamente autoral. Nascido em 1948, na Vila Nova Curuçá, periferia semirrural de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, construiu uma trajetória de resistência criativa e introspecção estética, que transcende modismos e categorizações simplistas.

Desde a infância, o contato de Jair Glass com o desenho foi visceral. Aos seis anos, ganhou do avô um “toquinho de lápis de cor azul”, com o qual realizou seu primeiro desenho — gesto inaugural que marcaria para sempre sua relação com a arte. A paisagem periférica e a rusticidade da vida cotidiana deixaram marcas simbólicas em sua obra, desenvolvida em um campo estético próprio, impregnado de tensão, desejo, violência e silêncio.

Na adolescência, Jair Glass descobriu os gibis, não tanto pelas histórias, mas pela riqueza gráfica. A força visual das ilustrações despertou seu fascínio pelo desenho como linguagem expressiva autônoma. Por volta dos quatorze anos, já demonstrava interesse pela construção de imagens como ferramenta de expressão subjetiva.

Por meio de publicações ilustradas e livros de arte, Jair Glass teve acesso aos grandes mestres da pintura ocidental. Os renascentistas italianos, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Cimabue e Fra Angelico, foram suas primeiras referências formais. Mais tarde, com o lançamento da coleção Gênios da Pintura, da Editora Abril, conheceu os modernos, como Henri Matisse, Pablo Picasso, Georges Braque, entre outros. Esse contato expandiu suas possibilidades técnicas e conceituais, enriquecendo seu repertório e servindo como base para sua linguagem singular.

Nos anos 1970, Jair Glass ingressou na Faculdade de Belas Artes de São Paulo (FEBASP), cursando Licenciatura em Desenho e Plástica. Nesse período, sistematizou seus conhecimentos técnicos e aprofundou sua pesquisa estética. Ao contrário de muitos artistas que aderem a escolas ou movimentos, sempre trilhou um caminho independente, voltado à construção de uma poética visual autônoma, que dialoga com vertentes do Fantástico, do Surreal e do Expressionismo, sem, no entanto, se enquadrar completamente em nenhuma delas.

A primeira exposição individual de Jair Glass ocorreu em 1975, no tradicional Clube dos Artistas e Amigos da Arte (o “Clubinho”), em São Paulo, quando tinha 27 anos. A mostra marcou o início de uma trajetória sólida, reconhecida pela crítica, premiada em salões e valorizada por colecionadores e instituições.

Um dos marcos de sua carreira foi o prêmio no Salão Nacional de Artes Plásticas, em 1986, evento de grande prestígio que consagrou artistas fundamentais da cena brasileira. A partir de então, a produção de Jair Glass passou a ser objeto de estudo por críticos, curadores e pesquisadores.

O trabalho de Jair Glass é, sobretudo, um exercício de escavação subjetiva. Seu traço é firme, violento, meticuloso e gestual ao mesmo tempo. Parece desenhar com o corpo inteiro, como se cada linha fosse o registro de um embate entre o pensamento e a carne. Define sua abordagem como uma “estética da luta”, marcada por “cicatrizes aparentes” — marcas que não são disfarçadas, mas exaltadas como parte essencial da imagem.

A obra de Jair Glass é centrada no humano: corpos tensionados, rostos distorcidos, anatomias fantásticas, gestos interrompidos. Em seus desenhos, há uma atmosfera entre o erótico, o sombrio e o sagrado profanado, que evoca o drama da existência com rara intensidade. Frequentemente, o espectador é confrontado com figuras ambíguas — ora monstros, ora mártires — que habitam uma realidade interior, psíquica e arquetípica.

A presença do Fantástico, como categoria estética, está presente não apenas no conteúdo, mas também na forma como Jair Glass constrói o desenho: figura e fundo se confundem, sombras emergem de espaços indefinidos, e o olhar do espectador é guiado por uma arquitetura emocional da composição.

O livro Jair Glass – Introduções a Escombros representa um ponto alto da reflexão crítica sobre sua obra. Com texto do crítico e curador Olívio Tavares de Araújo, a publicação oferece uma visão abrangente do percurso artístico de Jair Glass, contextualizando suas produções dentro da tradição da arte fantástica ocidental.

No ensaio, Tavares de Araújo percorre momentos históricos da arte europeia, referências filosóficas e musicais, para situar a obra de Jair Glass em uma linhagem de artistas que exploram os limites entre o visível e o invisível, entre o inconsciente e a forma plástica. O livro inclui ainda uma seleção criteriosa de desenhos e um depoimento pessoal do artista, no qual narra sua história de vida, processo criativo e motivações estéticas.

O virtuosismo técnico de Jair Glass é evidente. Seus desenhos revelam domínio profundo do grafite, nanquim e técnicas mistas sobre papel, permitindo a construção de atmosferas densas e detalhamento minucioso. As figuras nascem do traço, mas se expandem em camadas de significado.

Apesar da base acadêmica, Jair Glass nunca se deixou capturar por fórmulas ou estéticas convencionais. Sua relação com o desenho é física, existencial e obsessiva — um processo contínuo de revelação e destruição, construção e ruína. Sua produção se desenvolve no campo da intensidade emocional, e não do cálculo formal.

Jair Glass ocupa uma posição ímpar no cenário da arte brasileira. Sua obra, embora menos midiática do que a de outros nomes contemporâneos, possui grande relevância simbólica e estética. É um artista que construiu um universo próprio, alimentado por inquietações profundas e por uma entrega absoluta ao desenho como forma de pensamento.

A produção de Jair Glass contribui para o fortalecimento da linguagem do desenho no Brasil, frequentemente relegada a segundo plano diante da pintura e da escultura. O artista demonstra, com contundência, que o desenho pode ser linguagem total, capaz de expressar contradições, traumas, desejos e epifanias.

Ao longo da carreira, Jair Glass recusou o caminho fácil do decorativo ou do comercial, optando por uma arte densa, filosófica e comprometida com a complexidade do ser. Por isso, sua obra exige tempo, silêncio e contemplação — e recompensa o olhar atento com uma experiência estética rara.

Exposições Individuais

1975 – São Paulo SP – Individual, Clube dos Artistas e Amigos da Arte
1977 – São Paulo SP – Individual, Galeria Paulo Prado
1979 – São Paulo SP – Individual, Galeria Paulo Prado
1981 – São Paulo SP – Individual, Galeria Paulo Prado
1982 – Maldonado, Uruguai – Individual, Museu de Arte Americano de Maldonado
1984 – Belém PA – Individual, Elf Galeria de Arte
1987 – São Paulo SP – Individual, Galeria Paulo Prado
1990 – São Paulo SP – Individual, Galeria Paulo Prado
1995 – São Paulo SP – Individual, Galeria Paulo Prado

Exposições Coletivas

1973 – Santo André SP – 6º Salão de Arte Contemporânea de Santo André
1974 – São Caetano do Sul SP – VII Salão de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul
1974 – São Paulo SP – Bienal Nacional
1974 – Santo André SP – 7º Salão de Arte Contemporânea de Santo André
1974 – Santo André SP – 8º Salão de Arte Contemporânea de Santo André
1974 – São Paulo SP – 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea
1976 – Santo André SP – Salão de Arte Contemporânea de Santo André
1976 – Atibaia SP – 8º Encontro de Artes Plásticas de Atibaia
1976 – São Paulo SP – O Desenho – 1976: Cinco Destaques, Galeria VASP
1976 – Santos SP – 4º Salão de Arte Jovem
1976 – São Paulo SP – Bienal Nacional
1977 – Santos SP – 5º Salão de Arte Jovem
1977 – São Paulo SP – 7º Salão Paulista de Arte Contemporânea
1977 – São Paulo SP – Panorama de Arte Atual Brasileira, MAM-SP (Convidado)
1978 – Santo André SP – Exposição Coletiva
1978 – Punta del Este, Uruguai – 10 Artistas Jovenes de San Pablo
1978 – Rio de Janeiro RJ – I Salão Nacional de Artes Plásticas
1978 – Juiz de Fora MG – Exposição Coletiva, Universidade Federal de Juiz de Fora
1978 – Local não especificado – Exposição Coletiva, Novas Opções II
1978 – São Paulo SP – Exposição Coletiva, Galeria Entre Artes
1979 – Rio de Janeiro RJ – II Salão Nacional de Artes Plásticas
1980 – Curitiba PR – 2ª Mostra do Desenho Brasileiro (Convidado)
1980 – Ribeirão Preto SP – V Mostra de Arte de Ribeirão Preto
1980 – São Paulo SP – I Salão Paulista de Artes Plásticas e Visuais, MAM-SP (Convidado)
1980 – São Paulo SP – II Salão Brasileiro de Arte, Fundação Bienal
1981 – Cali, Colômbia – Bienal Americana de Artes Gráficas (Convidado)
1981 – Maldonado, Uruguai – IV Bienal de Maldonado (Convidado)
1981 – Tóquio, Japão – V Exposição Brasil–Japão de Artes Plásticas, Museu de Belas Artes
1981 – São Paulo SP – Exposição Coletiva, Paço das Artes
1982 – São Paulo SP – 04 Enfoques, Galeria Atelier I
1983 – São Paulo SP – Panorama/83 Pintura, MAM-SP (Convidado)
1983 – São Carlos SP – Exposição Coletiva, Galeria Itaú
1984 – São Paulo SP – Panorama/84 – Arte sobre Papel, MAM-SP (Convidado)
1985 – São Paulo SP – 3º Salão Paulista de Arte Contemporânea
1985 – Rio de Janeiro RJ – VIII Salão Nacional de Artes Plásticas
1986 – Rio Grande do Sul – Caminhos do Desenho Brasileiro
1986 – Belo Horizonte MG – 9º Salão Nacional de Artes Plásticas Sudeste
1986 – São Paulo SP – Exposição Coletiva, Chroma Galeria de Arte
1986 – Rio de Janeiro RJ – 9º Salão Nacional de Artes Plásticas – Mostra Final Premiados
1986 – Santo André SP – 14º Salão de Artes Contemporâneas
1989 – São Paulo SP – Exposição Coletiva, Grupo Guaianazes, MAM-SP
1989 – São Paulo SP – Cada Cabeça Uma Sentença, MAM-SP
1990 – Belo Horizonte MG – Exposição Coletiva, Grupo Guaianazes, Fundação Clóvis Salgado
1990 – Curitiba PR – Exposição Coletiva, Museu de Arte Contemporânea do Paraná
1991 – São Paulo SP – Salão Bunkyo de Arte Contemporânea, Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa
1992 – São Bernardo do Campo SP – Livro de Artista, Núcleo Henfil
1992 – Madri, Espanha – Exposição Itinerante, Casa do Brasil
1992 – Braga, Portugal – Exposição Coletiva, Galeria Belo Belo
1993 – Santos SP – Bienal Nacional de Santos (Convidado)
1996 – São Bernardo do Campo SP – Grupo Guaianazes, Espaço Henfil de Cultura
2002 – São Paulo SP – Leilão de Arte "O Artista pela Criança", Instituto Tomie Ohtake
2005 – Belém PA – O Papel de Cada Um, Espaço Cultural Banco da Amazônia
2007 – Brasília DF – Scherzo – O Excêntrico no Acervo da Caixa
2012 – Belém PA – 4Códigos (Charbel, Soncini e F. Gonzalez), Galeria CCBEU

Veja também