Gian Carlo Riccardi (Frosinone, Itália 1933 - idem 2015)
Gian Carlo Riccardi foi um artista, pintor, diretor de teatro, escultor e escritor italiano. Nascido em 21 de outubro de 1933, em Frosinone, na região do Lácio, destacou-se desde a infância por sua notável aptidão para as artes visuais, copiando imagens de revistas satíricas e jornais ilustrados como La Domenica del Corriere e Passa il Giro. Foi reconhecido desde cedo como um verdadeiro enfant prodige, graças à sua facilidade com o desenho, especialmente nas caricaturas e tiras cômicas.
Sua versatilidade artística se manifestou também na música: tocava piano e bateria, tendo se apresentado com o grupo Gli Evasi. Essa multiplicidade de talentos marcou profundamente toda a sua trajetória artística.
Após concluir o liceu clássico, Gian Carlo Riccardi formou-se com louvor em Cenografia pela Accademia di Belle Arti di Roma, em 1961, na histórica sede da Via Ripetta. Durante sua formação, foi aluno de mestres como Peppino Piccolo, Toti Scialoja e Mario Rivosecchi, figuras decisivas na consolidação de sua paixão pelo teatro. O então reitor da academia, Pippo Rizzo, declarou à sua mãe Rosa Amati que Riccardi possuía uma "mão feliz", destacando suas capacidades técnicas e criativas.
Aprofundou-se na direção teatral e cinematográfica ao se diplomar pelo Centro Sperimentale di Cinematografia di Roma, diante de uma banca presidida pelos irmãos Taviani e pela professora de história da arte Maria Cremisini.
Nas décadas de 1960 e 1970, atuou como cenógrafo e diretor na RAI Radiotelevisione Italiana, onde colaborou com Carlo Cesarini da Senigallia e Giorgio Aragno, em programas icônicos como Studio Uno, ao lado de Mina, Paolo Panelli, Bice Valori e Franca Valeri. Também contribuiu como redator e ilustrador em publicações satíricas como Il Travaso delle Idee, Marc’Aurelio, Simplicissimus, Il Borghese, Il Becco Giallo, L’Uomo Qualunque e Dismisura — esta última de sua própria promoção —, sempre com um humor refinado e crítica social aguçada.
Fez parte da Avanguardia Teatrale Romana, colaborando com nomes como Pino Pascali, Carmelo Bene, Mario Ricci, Memè Perlini, Giancarlo Nanni, Manuela Kustermann, Valentino Orfeo, Pippo Di Marca, Nino De Tollis, Giancarlo Sepe e Filippo Torriero, integrando o coletivo La Fede na Via Portuense, em Roma.
Em 1961, fundou o Gruppo Teatro Laboratorio Arti Visive, e em 1962 o Teatro Club, no centro histórico de Frosinone. Por meio desses grupos, Riccardi encenou dezenas de espetáculos de vanguarda em praças e teatros da Itália e do exterior, com uma abordagem visual e gestual fortemente simbólica, sempre voltada à crítica da vida cotidiana. Suas obras teatrais incluem: Il Volpone, Amleto I e II, Il Rinoceronte, Pinocchio, Teorema, Apocalisse, Escremento, Luigi XIV, Eden, Perché Lorca, Mia Terra, entre muitas outras.
Foi promotor de eventos e festivais como I Percorsi della Memoria (1984) e Elektronpoiesis (1986), e participou de importantes encontros e mostras, como a Settimana di Teatro Nuovo (1976), Il Teatro da Voi (1977), Incontri 1984 (Milão), e os Spettacoli itineranti per le regioni d’Italia. Em 1982, idealizou e dirigiu em Frosinone a primeira celebração italiana do Bloomsday, dedicada a James Joyce, com o patrocínio da embaixada da Irlanda, e participação de Enzo Siciliano como James Joyce e Dodò D’Amburgo como Molly Bloom.
Como pintor, Gian Carlo Riccardi transitou com fluidez entre o expressionismo e o abstracionismo lírico, explorando temas como o grotesco, a ironia, a duplicidade do ser e o universo infantil. Suas obras foram descritas pelo crítico Enrico Crispolti como expressão de um "artista multimídia", livre e inquieto, e sua pintura não se subordinava a nenhuma corrente ou movimento.
Na escultura e nas instalações, utilizava materiais simples ou reciclados, criando obras de forte impacto simbólico e sensorial. Destaca-se a série Stanze (Quartos), apresentada em locais prestigiados como o Parlamento Europeu, a Bienal de Veneza e o Festival de Spoleto.
Como escritor, Riccardi produziu textos teatrais, ensaios, roteiros e poesia, colaborando com revistas como Arte Incontro, Le Arti, La Fiera Letteraria, Flash Art, e sendo citado em publicações de referência como a Enciclopedia Treccani, Enciclopedia d’Arte Italiana, Enciclopedia dello Spettacolo, L’Arte Moderna, L’Élite, Cataloghi Bolaffi, entre outras.
Sua obra foi estudada e reconhecida por figuras como Achille Bonito Oliva, Alberto Moravia, Cesare Zavattini, Libero De Libero, Giuseppe Bonaviri, Umberto Mastroianni, Domenico Purificato, Elio Pagliarani, Franco Cavallo, Filiberto Menna, Angelo Maria Ripellino, Mario Lunetta, Sergio Amidei, Vito Riviello, Michele Biancale, entre muitos outros.
Em 1997, fundou o Teatro dell’Immagine, em parceria com seu filho, o compositor e docente Francesco Riccardi, dando origem a um teatro-concerto inovador, que unia elementos sonoros, visuais e dramatúrgicos de forma única.
Gian Carlo Riccardi faleceu em sua cidade natal, Frosinone, no dia 7 de fevereiro de 2015. Sua morte representou a perda de uma das vozes mais originais da arte italiana contemporânea. Sua obra permanece viva — provocadora, sensível e atemporal.
Gian Carlo Riccardi foi mais que um artista visual ou diretor teatral: foi um experimentador da forma, poeta da matéria e encenador da condição humana, transitando com maestria entre mídias, gêneros e linguagens. Sua incessante produção e sua insubordinável liberdade criativa o consagram como um dos nomes mais profundos e significativos da arte do século XX e início do XXI.
Exposições Individuais
1968 – Roma (Itália) – Palazzo delle Esposizioni
1972 – Milão (Itália) – Expo CT 72
1984 – Genebra (Suíça) – ArtExpo
1985 – Londres (Reino Unido) – British Art Fair
1988 – Paris (França) – Centre International d’Art Contemporain
1989 – Roma (Itália) – Villa Medici
1991 – Nova York (EUA) – Cooper Union
1991 – Bruxelas (Bélgica) – Parlamento Europeu
1992 – Paris (França) – Galerie Antoine Caudau e Gorden Pyn & Fils
1993 – Osaka (Japão) – Kodama Gallery
1995 – Cracóvia (Polônia) – Rassegna Internazionale di Arti Visive
1999 – Barcelona (Espanha) – Fundació Antoni Tàpies
2005 – Praga (República Tcheca) – Rassegna Internazionale di Arti Visive
s/d – Frosinone (Itália) – Diversas exposições individuais ao longo da vida
s/d – Perugia, Livorno, Milão (Itália) – Individuais em espaços institucionais e galerias
Exposições Coletivas
1976 – Roma (Itália) – Settimana di Teatro Nuovo
1977 – Roma (Itália) – Il Teatro da Voi
1984 – Milão (Itália) – Incontri 1984
1986 – Frosinone (Itália) – Elektronpoiesis
1993 – Veneza (Itália) – Bienal de Veneza
1995 – Spoleto (Itália) – Festival dei Due Mondi
s/d – Roma (Itália) – Mostras com o coletivo Avanguardia Teatrale Romana
s/d – Itália (diversas cidades) – Spettacoli itineranti per le regioni d’Italia
s/d – Brasil – Participações pontuais em coletivas e feiras internacionais representando artistas italianos