Estêvão Silva (Rio de Janeiro RJ ca.1844 - idem 1891)
José Pancetti foi um pintor conhecido principalmente por suas marinhas, embora sua obra também inclua paisagens, retratos, autorretratos e naturezas-mortas. Suas marinhas, inicialmente elaboradas de forma analítica, com pinceladas lisas e batidas organizadas em planos geométricos, sem ondas e sem vento, tornaram-se, com o tempo, mais limpas, aproximando-se da abstração, reduzidas à areia, à luz e ao mar.
Dos 11 aos 16 anos, por decisão do pai, Giuseppe Gianinni Pancetti viveu na Itália, sob os cuidados do tio e dos avós. Antes de tornar-se marinheiro, trabalhou como aprendiz de marceneiro, em fábricas de bicicletas e de material bélico. Em 1919, ingressou na marinha mercante italiana, viajando por três meses pelo Mediterrâneo. No ano seguinte, retornou ao Brasil e, em Santos, exerceu diversas funções, como operário têxtil, auxiliar de ourives, trabalhador na rede de esgotos e faxineiro de hotel. Em 1921, em São Paulo, trabalhou na Oficina Beppe, especializada em decoração de paredes, atuando como cartazista, pintor de parede e auxiliar do pintor Adolfo Fonzari. Em 1922, alistou-se na Marinha de Guerra brasileira, onde permaneceu até ser reformado em 1946, no posto de 2º Tenente. Em 1925, enquanto servia no encouraçado Minas Gerais, realizou suas primeiras pinturas. No ano seguinte, para progredir na carreira, integrou o quadro de pintores da "Companhia de Praticantes e Especialistas em Convés". Em 1933, ingressou no Núcleo Bernardelli, onde recebeu orientação de Manoel Santiago, Edson Motta, Rescála e, principalmente, do pintor polonês Bruno Lechowski, adquirindo técnica e amadurecimento artístico.
Comentário Crítico
Estêvão Silva é o primeiro pintor negro de destaque formado pela Academia Imperial de Belas Artes - Aiba e, como apontam vários estudiosos, pode ser considerado um dos melhores pintores de naturezas-mortas do século XIX. Seu interesse pelo tema deve ter sido motivado pelo estudo com Agostinho da Motta (1824 - 1878), na Aiba. Silva realiza predominantemente pintura de frutos, como Grumixamas e Jaboticabas, s.d., Araçás, 1870 ou Natureza-Morta, 1884.
O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) ressalta a qualidade das composições do artista, realizadas com prodigalidade de vermelhos, amarelos e verdes, nas quais ele consegue dar a aparência de fidelidade à representação, passando para a tela tudo o que vê e sente na natureza. Parece-lhe até impossível "pintar frutos melhor do que os tem pintado Estêvão. Os seus pêssegos são na forma, na cor, na penugem macia e alourada que os reveste, verdadeiros pêssegos".2
Na década de 1880, Estêvão Silva convive com os integrantes do Grupo Grimm, porém sem nunca romper seus vínculos com a Aiba. O artista realiza também alguns retratos, como o do pintor Castagneto (1851 - 1900), em 1880, e composições de temas históricos e religiosos, como S. Pedro, s.d., A Caridade, s.d. e um esboço para o quadro A Lei de 28 de Setembro, s.d.
Notas
1 O fato é relatado de forma detalhada pelo crítico de arte Laudelino Freire (1873 - 1937) e também na autobiografia de Antônio Parreiras. Ver: FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil: de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983; PARREIRAS, Antônio. História de um pintor contada por ele mesmo: Brasil - França: 1881-1936. Apresentação Athayde Parreiras. Niterói: Diário Oficial, 1943.
2 DUQUE, Gonzaga. A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. (Coleção Arte: Ensaios e Documentos). p. 219.
Críticas
"Aí está a fidelidade, está a realidade, e quando o artista consegue nos iludir perfeitamente, quando consegue passar para a tela o que vê e o que sente na natureza, tem conseguido tudo. Há, no entanto, na sua habilidade, uma pequena falha - é a maneira de fazer as sombras. Estêvão carrega-as rudemente, acusando, como se faz na Academia, a projeção dos corpos. Disso resulta um certo peso na tonalidade. O mesmo defeito, ainda que menos pronunciado, pode ser notado nas paisagens ou nas marinhas executadas pelos pincéis de Estêvão Silva".
Francisco Acquarone e A. de Queiroz Vieira
PRIMORES da pintura no Brasil. Francisco Acquarone; A. de Queiroz Vieira. 2. ed. Rio de Janeiro, s. ed. , 1942.
"Distinguiu-se na pintura de frutas, merecendo a seguinte apreciação da crítica da época: ´Realmente é difícil e até parece impossível pintar frutas melhor do que as que tem pintado Estêvão´ (...) Era de gênio irrequieto e turbulento. De uma vez, em plena solenidade de distribuição de prêmios na Academia, levantou-se e queixou-se a D. Pedro II, presente ao ato, de que tinha sido vítima de injustiça não sendo premiado. A comissão designada para apurar o incidente, após ouvi-lo, puniu-o com a pena de suspensão dos estudos por um ano".
Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala
CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5).
Acervos
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo SP)
Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora MG)
Museu Nacional de Belas Artes - MNBA (Rio de Janeiro, RJ)
Exposições Coletivas
1872 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1876 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1879 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - medalha de prata
1882 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Exposição Promovida pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, na Sociedade Propagadora de Belas Artes
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba - 2ª medalha de ouro
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba - prêmio aquisição
Exposições Póstumas
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1979 - Rio de Janeiro RJ - Quadros Oitocentistas Brasileiros e Europeus, na Mauricio Pontual Galeria de Arte
1983 - São Paulo SP - História da Pintura Brasileira no Século XIX, no Paço das Artes
1986 - São Paulo SP - Mostra Dezenovevinte: uma virada no século, na Pinacoteca do Estado
1988 - São Paulo SP - A Mão Afro-Brasileira, no MAM/SP
1993 - São Paulo SP - Pintores negros do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes - RJ, no Margs
2000 - Rio de Janeiro RJ - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Negro de Corpo e Alma, na Fundação Casa França-Brasil
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
Fonte: Itaú Cultural