Cirton Genaro (Martinópolis, SP, 1947)
Cirton Genaro é artista visual, desenhista, colorista e ilustrador, conhecido por uma produção pictórica marcada pela crítica social, pelo surrealismo e por referências ao universo interiorano paulista. Estudou pintura com o artista tcheco Jorge Kopecny entre 1965 e 1968 e formou-se em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências e Letras de Presidente Prudente, em 1970. Lecionou por mais de duas décadas no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
A obra de Cirton Genaro se destaca pelo forte envolvimento com a representação simbólica e crítica da realidade brasileira. A tela Acorrentado, por exemplo, retrata um homem preso a um poste na Avenida Paulista, com os pés sobre faróis de trânsito e uma placa “Siga” à sua frente — alegoria visual de resistência e alienação urbana. A imagem remete ao mito de Prometeu, sugerindo o artista como um criador condenado por sua ousadia intelectual.
A fusão entre realidade e fantasia é recorrente nos desenhos de Cirton Genaro, com cenas surrealistas como a de um homem entediado observado por um imenso réptil (Fim de tarde), ou a de uma senhora de cabelos brancos engolindo um sapo — imagens de forte carga onírica e expressão psicológica.
Como colorista, Cirton Genaro se destaca pelo uso expressivo da cor, como em Verde, onde as tonalidades da blusa de uma jovem se sobressaem sobre um fundo negro de caráter barroco. Sua habilidade técnica também se evidencia em cenas rurais que remetem à infância no interior paulista. A série de bois premiados, por exemplo, retrata os animais com figuras religiosas, mitológicas ou alegóricas sobre os lombos.
A figura do caipira é reinterpretada por Cirton Genaro de forma simbólica, como em João-de-barro, onde utensílios domésticos se fundem aos ninhos do pássaro em chapéus de palha, ou em recriações de obras clássicas como Caipira picando fumo, de Almeida Júnior. Em Outono, explora transparências e variações cromáticas com maestria; e nas obras sobre a infância, utiliza tons pastel para sugerir delicadeza e ingenuidade.
Elementos surrealistas são frequentes na obra de Cirton Genaro, como em Ana Maria, onde portas entreabertas evocam os universos de Salvador Dalí e René Magritte, ou em Grupo, no qual figuras humanas de traços refinados assumem feições de animais como porcos, abutres e hienas — crítica direta à hipocrisia social.
Nas décadas de 1980 e 1990, Cirton Genaro atuou como ilustrador para publicações como Veja e Playboy, produzindo capas e pinturas corporais. Colaborou também com o biólogo Paulo Vanzolini no Museu de Zoologia da USP, desenhando animais em situações imaginadas, mesclando observação científica e liberdade criativa.
Em sua produção mais crítica, Cirton Genaro aborda desigualdades sociais com contundência, como em Poderoso, em que a figura de um homem de terno branco remete ao arquétipo mafioso de O poderoso chefão, ou em Maria das panelas vazias, que mostra uma menina pobre sentada sobre uma panela, evocando miséria e abandono. Ainda assim, evita soluções fáceis ou panfletárias, transformando cada cena em uma reflexão estética e ética.
A série sobre favelas de Cirton Genaro mescla realismo social com referências à abstração geométrica de Mondrian, utilizando linhas retas e cores primárias para estruturar formalmente a precariedade das moradias populares.
Cirton Genaro também realiza releituras ousadas de obras consagradas, como em Meninas da noite, versão crítica e irônica de Rosa e azul, de Renoir. Sua produção recebeu reconhecimento de nomes como Jacob Klintowitz, Mario Schemberg, Paulo de Almeida e Octavio Araújo.
Ao longo da carreira, Cirton Genaro consolidou uma pintura profundamente autoral, crítica e técnica, aliando conhecimento da história da arte, apuro cromático e visão poética do cotidiano. Sua obra configura uma resposta plástica vigorosa às tensões da modernidade, sem romper com a imaginação e a liberdade criativa.
Exposição
1980 - Presidente Prudente, SP - 3º Salão de Artes Plásticas de Presidente Prudente
2005 - São Paulo, SP - Pequenas Grandes Obras
2005 - São Paulo, SP - Caderno de Notas, Vlado 30 anos
2006 - São Paulo, SP - Olha a Bola!
2006 - São Paulo, SP - Alma de Artista