Victor Meirelles

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Biografia

Victor Meirelles (Florianópolis SC 1832 - Rio de Janeiro RJ 1903)

Pintor, desenhista, professor.

Victor Meirelles de Lima iniciou seus estudos artísticos por volta de 1838, com o engenheiro argentino Marciano Moreno. No ano de 1847, muda-se para o Rio de Janeiro e se matricula na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba onde, em 1849, inicia o curso de pintura histórica. Em 1852 ganha o prêmio de viagem ao exterior e no ano seguinte segue para a Itália. Em Roma freqüenta, em 1854, as aulas de Tommaso Minardi (1787 - 1871) e, posteriormente de Nicola Consoni (1814 - 1884), com quem realiza uma série de estudos com modelo vivo. Com a prorrogação da pensão que lhe fora concedida continua sua formação estudando em Paris onde, em 1857, matricula-se na École Superiéure des Beaux-Arts [Escola Superior de Belas Artes], freqüentando as aulas de Leon Cogniet (1794-1880) e, em seguida, recebendo orientações de seu discípulo Andrea Gastaldi (1810-1889). Durante o período em que permanece no exterior corresponde-se com Porto Alegre (1806 - 1879). Retorna ao Brasil em 1861 e, um ano depois, é nomeado professor de pintura histórica da Aiba. Entre os anos de 1869 e 1872 executa duas grandes telas, Passagem do Humaitá e Batalha de Riachuelo. Em 1879 participa da Exposição Geral de Belas Artes, expondo a Batalha dos Guararapes ao lado da Batalha do Avaí de Pedro Américo (1843 - 1905). A apresentação das duas obras gera grande polêmica e um intenso debate no meio artístico. A partir de 1886 passa a se dedicar à execução de panoramas. Entre eles destacam-se: o Panorama Circular da Cidade do Rio de Janeiro, feito na Bélgica, juntamente com Henri Langerock (1830 - 1915) e Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro em 1894, produzida nesse mesmo ano.

Comentário Crítico

Nasce em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, e vai para o Rio de Janeiro em 1847, onde estuda na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. Em 1852, obtém o prêmio de viagem ao exterior da Aiba. Em Roma, é orientado pelos artistas Tommaso Minardi (1787 - 1871) e Nicola Consoni (1814 - 1884) e entra em contato com a pintura "purista", na qual o desenho é mais tênue e delicado que o da tradição neoclássica e as cores são suavizadas. Estuda as obras dos mestres italianos, em especial os artistas da Escola Veneziana, como Ticiano (ca.1488 - 1576) e Paolo Veronese (1528 - 1588), por quem manifesta especial interesse. Consegue renovação do pensionato e estuda em Paris, a partir de 1857, com o artista Léon Cogniet (1794 - 1880) e posteriormente com Andrea Gastaldi (1826 - 1889). Durante o tempo em que reside no exterior, mantém intensa correspondência com  Porto Alegre (1806 - 1879), pintor e escritor, diretor da Aiba entre 1854 e 1857. Após mais de oito anos de ausência, retorna ao Brasil em 1861. No ano seguinte é nomeado professor de pintura histórica e de paisagem na Aiba, cargo que exerce até 1890.

Na permanência em Paris, pinta o quadro A Primeira Missa no Brasil (1861). O crítico Gonzaga Duque (1863 - 1911) comenta essa obra, ressaltando sua importância histórica: "... A primeira missa não poderia ser senão aquilo que ali está. Devia ser, forçosamente, aquele conjunto, isto é, um altar, um padre oficiando, um outro servindo de acólito, a guarnição da armada portuguesa assistindo ao ofício divino, o gentio aproximando-se, cauteloso, admirado, imitando o que via fazer. É isso o que narra a história e só".1 O quadro retrata a primeira missa da maneira como é descrita na carta de Pero Vaz de Caminha (ca.1451 - 1500). O documento, publicado somente em 1817, assume papel primordial na história do Brasil. No momento em que o quadro é pintado, a temática indianista está presente na literatura romântica e nas artes plásticas. Destaca-se o sentido poético de organização dos grupos que participam da cena e a gama cromática, com sutilíssimas passagens de tons. A cena principal estende-se ao longe e o olhar do espectador é direcionado para a cruz, no alto. No plano de fundo, abre-se a paisagem serena, banhada por uma luz suave, na qual está presente a vegetação tropical. O quadro tem uma atmosfera contemplativa. Meirelles cria uma imagem da história que dificilmente pode ser esquecida e que para muitos setores da intelectualidade do século XIX é a primeira grande obra de arte brasileira.

A tela Moema (1866) inspira-se no canto VI do poema épico Caramuru (1781), de frei José de Santa Rita Durão (1722 - 1784), que, como outros textos literários do período, trata do tema indianista ligado ao imaginário nacional. O poema narra a desventura da índia que, abandonada pelo português Caramuru, se atira ao mar e segue o navio no qual ele está partindo. No quadro, o corpo nu, banhado pelas ondas na praia, é exposto em primeiro plano, o rosto revela uma beleza exótica. O pintor cria uma imagem sensual e que, ao mesmo tempo, causa estranheza. Revela um sentimento poético na representação da paisagem.

Ao longo da carreira, recebe várias encomendas de quadros oficiais, entre eles, a Batalha de Riachuelo (ca.1882), no qual, com a técnica naturalista da representação, explora o triunfo e a destruição associados ao combate.  Na Exposição Geral de Belas Artes, em 1879, são apresentadas as telas A Batalha de Guararapes, de Victor Meirelles e a Batalha do Avaí, de Pedro Américo (1843 - 1905), que marcaram época na pintura brasileira. É criada uma polêmica na imprensa, em relação às duas telas, consideradas antagônicas. 

Com a Proclamação da República, modifica-se a direção da Aiba, que passa a se chamar Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Surgem propostas de renovação no ensino das artes e os antigos professores, como Victor Meirelles, são exonerados. Ele passa a ser marginalizado, por ser identificado como o pintor oficial da monarquia. Desde 1885, procurando alternativa à pintura historica e às encomendas oficiais, cria uma empresa de panoramas da cidade do Rio de Janeiro. No fim da vida, sobrevive das exibições públicas de seus panoramas e, melancólico, lamenta que o público tenha esquecido de seus quadros. Do primeiro panorama, exposto em Bruxelas e em Paris, em 1889, foram preservados apenas seis estudos. Nestes, a paisagem é representada com equilibrada distribuição de tons, e o olhar do espectador é convidado a percorrer a variedade de passagens, da semi-obscuridade da vegetação à luminosidade da atmosfera.

Vitor Meirelles tem papel importante na formação de vários artistas, na segunda metade do século XIX, devido a sua longa carreira como professor. Destaca-se, sobretudo, pelas qualidades de sua pintura: o desenho primoroso e a requintada combinação tonal em telas trabalhadas com sentimento e poesia.

Notas
1 DUQUE, Gonzaga. A Arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p.173. (Arte: ensaios e documentos).

Críticas

"Victor Meirelles foi saudado pela crítica mais conservadora - Araújo Viana, por exemplo, proclama-o uma 'individualidade culminante e imorredoura na pintura nacional' - e negado pelos adeptos da arte moderna. De fato, ele não assimilou as novas tendências do século XIX: progrediu sobre o academismo da Missão Francesa por haver buscado inspiração à terra e à raça e ter-se motivado no gentio, quer em Primeira Missa no Brasil, quer em Moema e outras telas - presença do indianismo, que fora uma das características do romantismo literário no Brasil. Acurado na observação, foge das regras convencionais para construir suas próprias normas. Não se conservou prisioneiro da Academia, pois o sentimento e a poesia pairam em suas telas, acima das convenções. Mais emotivo que cerebral, constituiu a réplica a Pedro Américo".
Celso Kelly
ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 553.

"Parece-nos não haver dúvida alguma de que Victor Meirelles usou então a arte como auxiliar de educação, procurando chamar, atrair à sua exposição, os escolares, para que esses aí recebessem conhecimentos novos. (...) consideramos 'Victor Meirelles o precursor da utilização da arte como fator educativo entre nós', isto é, aquele que, dentre nossos patrícios, primeiro teve a idéia de empregar a arte como meio de divulgação e de complemento da educação".
Elza Ramos Peixoto
ROSA, Angelo de Proença; MELLO JÚNIOR, Donato; PEIXOTO, Elza Ramos; SOUZA, Sara Regina Silveira de. Victor Meirelles de Lima: 1832-1903. Rio de Janeiro, Pinakotheke, 1982.

"A euforia do governo imperial nos fins da década de 1860 e durante a seguinte, de 70, permitira, ao mesmo (Victor Meirelles), encomendas de telas comemorativas dos grandes eventos da Guerra da Tríplice Aliança, numa comparação, guardadas bem as devidas proporções, em modesta escala, com as da época napoleônica... O Brasil já dispunha de dois artistas para essas consagrações oficiais: Victor Meirelles e Pedro Américo. E contava com um ministro interessado nelas: o Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira".
Donato Mello Júnior
ROSA, Ângelo Proença; MELLO JÚNIOR, Donato; PEIXOTO, Elza Ramos. Victor Meirelles de Lima: 1832-1903. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982. p. 109-110.

"Meirelles estudara na Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, que  fora marcada por professores franceses vindos em 1816, de boa cepa neoclássica. Mas os anos que passara em Roma, trabalhando sobretudo com um discípulo de Minardi, Nicola Consoni, fizeram-no entrar em contato com a chamada pintura 'purista' - arte na qual o desenho é mais frágil, tênue e delicado que os da tradição inaugurada por David, arte que abranda o vigor anatômico neoclássico em benefício de corpos simplificados, arte cujas cores são suavizadas e onde uma geometria interna preside à composição -, geometria de tranqüilo equilíbrio. (...) Na Roma de Pio IX, a formação neoclássica atenuara-se, espiritualizara-se, adquirindo um modo definitivo de ser que o seu período parisiense não saberia apagar. Todos esses princípios surgem com clareza na Primeira Missa, cujo projeto era o de instaurar um momento harmônico e espiritual, onde se concertavam mundos opostos".
Jorge Coli
COLI, Jorge. Primeira missa e invenção da descoberta. In: NOVAES, Adauto (Org.) A descoberta do homem e do mundo.São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.107-121.

"Pela primeira vez desde os tempos de Debret, o Estado tornou a encomendar aos artistas telas de grandes dimensões, visando criar um conjunto de imagens dos eventos da guerra a ser legadas às gerações seguintes. O papel da pintura histórica na educação e na criação da consciência nacional finalmente havia se tornado patrimônio das instituições. 
Victor Meirelles e Pedro Américo foram os protagonistas dessa mudança. Em 1866, Meirelles recebia do ministro da Marinha, Affonso Celso, a tarefa de pintar um grande quadro comemorativo da batalha naval de Riachuelo, travada em junho de 1865 contra as forças paraguaias - uma batalha considerada decisiva pela Marinha, que conseguira evitar o ataque de surpresa dos adversários e estabelecera um domínio sobre a rede fluvial que seria determinante para a vitória. (...) 
Com a queda do regime monárquico e a Proclamação da República, em 1889, surgem expectativas de renovação cultural. (...) 
Victor Meirelles foi o único artista a ser marginalizado pelo regime, que o identificava como o pintor oficial da monarquia. Circundava-o, todavia, a admiração que soubera angariar dos alunos e que fazia dele um ponto de referência para os artistas mais sensíveis da geração mais jovem. 
Imitando o exemplo de Gerveaux em Paris, Meirelles criara em 1885 uma Empresa de Panoramas da Cidade do Rio de Janeiro, recrutando sócios contribuintes e improvisando-se como gerente. A pintura de panorama, mostrando não somente a beleza mas o grau de desenvolvimento urbanístico e industrial da capital, tinha de servir como propaganda do Brasil junto aos futuros emigrados europeus, aos quais cabia satisfazer a demanda de mão-de-obra livre provocada pela já iminente abolição da escravatura. 
O primeiro panorama do Rio de Janeiro, do qual só restam seis estudos no MNBA, foi executado pelo artista em Bruxelas e exposto na capital belga e em Paris, por ocasião da Exposição Universal de 1889. 
Meirelles também, portanto, buscava uma alternativa à pintura histórica e às encomendas oficiais, que logo a República negaria".
Luciano Migliaccio
MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. p. 109-110,150.

Exposições Coletivas

1846 - Rio de Janeiro RJ - 7ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1852 - Rio de Janeiro RJ - 12ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1859 - Rio de Janeiro RJ - 13ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1860 - Rio de Janeiro RJ - 14ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1861 - Paris (França) - Salon de Paris
1862 - Rio de Janeiro RJ - 15ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1864 - Rio de Janeiro RJ - 16ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1865 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1866 - Rio de Janeiro RJ - 18ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1867 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1868 - Rio de Janeiro RJ - 20ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1870 - Rio de Janeiro RJ - 21ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1872 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1875 - Rio de Janeiro RJ - 23ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1876 - Filadélfia (Estados Unidos) - Exposição Comemorativa do Centenário de Emancipação Norte-Americana - prêmio pintura
1878 - Turim (Itália) - Exposição de Turim - medalha de ouro
1879 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1883 - Paris (França) - Salon de Paris
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1889 - Paris (França) - Exposição Universal - medalha de ouro

Exposições Póstumas

1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1941 - Rio de Janeiro RJ - Pedro Américo e Victor Meirelles, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1953 - São Paulo SP - 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
1961 - Rio de Janeiro RJ - O Rio na Pintura Brasileira, na Biblioteca Estadual da Guanabara
1969 - Rio de Janeiro RJ - Retrospectiva, no MNBA
1977 - Rio de Janeiro RJ - Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no MNBA
1977 - São Paulo SP - Obra-Prima do MASP, no Sesc Pompéia 
1982 - Florianópolis SC - Exposição Comemorativa do Sesquicentenário do Nascimento de Victor Meirelles, no Museu de Arte de Santa Catarina
1984 - São Paulo SP - Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1985 - Rio de Janeiro RJ - Estudos Preparatórios do Século XIX, no MNBA
1986 - Belo Horizonte MG - Momento IBM Brasil, no Espaço Cultural IBM
1986 - Brasília DF - Momento IBM Brasil, no Espaço Cultural IBM
1986 - Florianópolis SC - Victor Meirelles: gênese de um gênio, no Museu de Arte de Santa Catarina
1987 - São Paulo SP - A Trama do Gosto: um outro olhar sobre o cotidiano, na Fundação Bienal
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII - XX, no Masp
1988 - São Paulo SP - Brasiliana: o homem e a terra, na Pinacoteca do Estado
1991 - São Paulo SP - O Desejo na Academia: 1847-1916, na Pinacoteca do Estado
1993 - Rio de Janeiro RJ - Expansão, Ordem e Defesa, no Museu Histórico Nacional
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes, no Margs
2000 - Rio de Janeiro RJ - Visões do Rio na Coleção Geyer, no CCBB
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Arte do Século XIX, na Fundação Bienal
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Trajetória da Luz na Arte Brasileira, no Itaú Cultural
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2003 - Curitiba PR - Victor Meirelles: um artista do império, no Museu Oscar Niemeyer

Fonte: Itaú Cultural

Veja também