Pedro Américo

Obras de arte disponíveis

Pedro Américo - Sem Título

Sem Título

óleo sobre cartão
20 x 14 cm

Biografia

Pedro Américo (Areia PB 1843 - Florença, Itália 1905)

Pedro Américo de Figueiredo e Mello.

Pintor, desenhista, professor, caricaturista, escritor.

Antes de completar dez anos acompanha, como desenhista auxiliar, a expedição científica do naturalista francês Jean Brunet ao Nordeste do Brasil, em 1852. Por volta de 1855, muda-se para o Rio de Janeiro, onde estuda no Colégio Pedro II e no ano seguinte matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba. Entre 1859 e 1864, com bolsa concedida pelo imperador dom Pedro II (1825 - 1891), estuda na École National Superiéure des Beaux-Arts [Escola Nacional Superior de Belas Artes] de Paris, onde é aluno de Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780 - 1867), Hippolyte Flandrin (1809 - 1864) e Carle-Horace Vernet (1789 - 1863); no Instituto de Física; e na Sorbonne. Após viagem pela Itália, retorna ao Rio de Janeiro em 1864 e assume a cadeira de desenho na Aiba. No ano seguinte, fixa-se em Bruxelas, Bélgica, e titula-se doutor em ciências naturais pela Universidade de Bruxelas em 1868. Alterna estadas no Rio de Janeiro e em Florença, mas continua como professor de estética, história da arte e arqueologia na Aiba. Entre 1870 e 1871, é responsável pela revista de caricatura A Comédia Social. Em 1877, expõe em Florença a Batalha de Avaí, encomendada pelo Ministério do Exército. A obra é novamente exposta, juntamente com a Batalha dos Guararapes, de Victor Meirelles (1832 - 1903), na Exposição Geral de Belas Artes de 1879, e gera intensa polêmica. Entre 1886 e 1888, pinta a tela Independência ou Morte, para o Salão de Honra do Museu do Ipiranga, atualmente Museu Paulista da Universidade de São Paulo - MP/USP. Com a Proclamação da República, é eleito deputado da Assembléia Nacional Constituinte, em 1890. Em 1900 retorna a Florença.

Comentário crítico

Pedro Américo de Figueiredo e Mello nasce numa família de músicos. Desenha desde muito novo e em 1853, antes de completar 10 anos, é convidado a integrar a expedição do naturalista Jean Brunnet, como desenhista assistente, e viaja por parte do Nordeste brasileiro. O trabalho lhe vale uma recomendação de estudo no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, para onde se muda em 1854. Um ano depois matricula-se na Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, onde estuda três anos e progride rapidamente. O pintor e então diretor da Aiba, Porto Alegre (1806 - 1879) chega a apelidá-lo de "o papa-medalhas". Seu sucesso é notado até pelo imperador dom Pedro II (1825 - 1891), que se encarrega pessoalmente de sua transferência para Paris e se responsabiliza pelos custos.

Assim, em 1859, Pedro Américo muda-se para a França e matricula-se na École National Superiéure des Beaux-Arts de Paris [Escola Nacional Superior de Belas Artes]. Tem aulas com Leon Coignet (1794 - 1880) e Sebastien Melchior Cornu (1804 - 1870), discípulo de Hippolyte Flandrin (1809 - 1864). Muito curioso, estuda física, primeiro no Instituto de Monsieur Ganot, depois na Sorbonne. Nesta universidade, aprofunda seus conhecimentos em arquitetura, teologia, literatura e filosofia e neste campo tem como mestres Victor Cousin (1792 - 1867) e Claude Bernard (1813 - 1888). O artista assiste às aulas de física ministradas por Michael Faraday (1791 - 1867) e de arqueologia, por Charles Ernest Beule (1826 - 1874). No período que passa em Paris é laureado com muitos prêmios e títulos, entre eles dois prêmios da Academia de Belas Artes, e pinta duas de suas mais famosas telas: A Carioca (1882) e Sócrates Afastando Alcebíades do Vício (ca.1863). Conquista o bacharelado em ciências naturais pela Sorbonne, com a tese Considerações Filosóficas sobre as Belas Artes entre os Antigos.

Depois de curta temporada na Argélia, onde conhece a vida oriental, interesse comum nas pinturas de seus mestres neoclássicos, em 1862, Pedro Américo vai para a Bélgica e matricula-se na Université de Bruxelles, que freqüenta com pouca regularidade, e em 1869 recebe o título de doutor em ciências naturais. De volta ao Brasil, em 1864, o pintor disputa a cadeira de desenho na Aiba. Obtém o título, mas como o ambiente do Rio de Janeiro não se mostra favorável, retorna para a França. Desta vez a estada é mais dura, pois ele conta com parcos recursos. Seu salário de professor mal cobre as despesas ordinárias. No entanto, faz importantes trabalhos de caráter religioso. Em 1869, viaja para Portugal, com o intuito de voltar para o Brasil. Em Lisboa, hospeda-se na casa de seu antigo professor, Porto Alegre, casa-se com sua filha Carlota e no começo de 1870 retorna ao Brasil. Reassume o posto de professor na Aiba; ministra cursos de estética, história da arte e arqueologia.

Na época trabalha muito: pinta, dirige as seções de numismática e arqueologia do Museu Histórico Nacional, escreve e faz caricaturas para o periódico A Comédia Social. As telas são cenas mitológicas, históricas e retratos. Entre os retratados estão os imperadores dom Pedro I (1798 - 1834) e dom Pedro II e o marechal Duque de Caxias. Em 1871, realiza o seu primeiro painel, a cena de guerra Batalha de Campo Grande. Com o sucesso da pintura, Pedro Américo é agraciado no ano seguinte com o título de Pintor Histórico da Real Câmara e posteriormente recebe o convite da coroa para realizar A Batalha do Avaí (1873-1877), uma cena da Guerra do Paraguai. Para trabalhar na encomenda, o artista parte para Europa em 1873 e, no ano seguinte, instala seu ateliê numa sala cedida pelo governo italiano no Convento da Santíssima Annunziata, em Florença, onde permanece por aproximadamente três anos. Terminado, o quadro é exposto primeiro em Florença, em 1877, com a presença do imperador do Brasil. Ao chegar ao Rio de Janeiro em meados desse ano, a pintura causa reações entusiasmadas. Alguns a apóiam com veemência, outros se irritam e acusam Pedro Américo de plagiar a tela Batalha de Montebelo do italiano Andrea Appiani (1754 - 1817).

Por volta de 1879, retorna à Florença, onde pinta alguns de seus mais importantes quadros. São dessa época O Voto de Heloísa (1880), Judite e Holofenes (1880), Moisés e Jocabed (1884) e Rabequista Árabe (1884). No período, também se dedica à escrita. Publica, em 1880, o Discurso sobre o Plágio na Literatura e na Arte, defendendo-se das acusações de plágio. Em 1881, o artista lança o romance Holocausto, de inspiração biográfica. É mal recebido - muito idealizado, mais do que as cenas de suas pinturas, ele é considerado inverossímil. Em 1885, Pedro Américo volta ao Brasil e reassume a cadeira de história das artes, estética e arqueologia na Aiba e no ano seguinte publica outro romance, Amor de Esposo. Fica pouco tempo e retorna a Florença, desta vez em razão da encomenda, pela província de São Paulo, da cena da proclamação da independência do Brasil. Permanece na cidade até 1888, quando entrega a sua mais conhecida obra: Independência ou Morte (1888) - também conhecida como O Grito do Ipiranga. Seu trabalho, mais uma vez, gera controvérsia. Apontam a semelhança desta tela com a pintura 1807 - A Batalha de Friedland, do pintor francês Ernest Meissonier (1815 - 1891). Em novembro de 1916, Monteiro Lobato (1882 - 1948) afirma, sobre essa tela, que "raras vezes a arte da pintura atinge tal vértice".1 Apesar de criticar duramente Pedro Américo, por ele desdenhar "da vereda áspera" de uma arte genuinamente brasileira, elogia suas qualidades técnicas e seu manejo das formas acadêmicas.

Com a queda da monarquia, o regime republicano promove, em 1890, uma reforma na Aiba, que passa a chamar-se Escola Nacional de Belas Artes - Enba. Os professores mais antigos e próximos do imperador são afastados. Entre eles está Pedro Américo. No mesmo ano, ele se elege deputado pela Paraíba. Não é muito presente nas sessões da Câmara, mas tem atuação importante. Encaminha projetos de criação de museus, galerias e universidades pelo país; de redução do mandato presidencial e de concessão de pensão vitalícia para o imperador deposto. Nos intervalos da função parlamentar, Pedro Américo pinta telas, como Tiradentes Esquartejado (1893).

Em 1894, com a saúde bastante abalada, o artista transfere-se para Florença, desta vez, em caráter definitivo. Lá escreve dois romances: Foragido, editado em 1899, e Cidade Eterna, publicado em 1903. Apesar de sua fragilidade, pinta muito. Permanece na Itália até sua morte, em 1905.

Notas
1 LOBATO, Monteiro. Pedro Américo. In: ______. Idéias de Jeca Tatu. São Paulo: Editora Brasiliense, 1951. p. 75.

Críticas 

"Afirmam os entendidos que até hoje não apareceu no Brasil um desenhista tão perfeito como Pedro Américo. Seu quadro Batalha do Avaí é considerado modelo de técnica. Outras maravilhas: O Grito do Ipiranga, David e Abisag e A Carioca. Este último quadro foi pintado na Europa e mandado de presente para o Imperador Pedro II. Trata-se de bela morena carioca, nua, banhando-se na Cascatinha da Tijuca. Verdadeira obra de arte e bom gosto. No entanto, o mordomo da Casa Imperial considerou o motivo licencioso para figurar na Galeria de Sua Majestade. O quadro foi devolvido e o grande pintor, ferido em seus brios, ofertou-o a Guilherme I, Imperador da Alemanha. Pelo gesto foi condecorado com medalha de ouro".
José Claudino da Nóbrega
NÓBREGA, José Claudino da. Paraíba pequena mas gloriosa. In: ______. Memórias de um viajante antiquário. São Paulo: Raízes, 1984. p. 84.

"O artista abandonou as cediças linhas da composição acadêmica, e compôs o sujeito como melhor entendeu, para transmitir mais diretamente a impressão recebida. Para alguns constitui esse modo de proceder um imperdoável erro, porque é desprezar os mais austeros princípios da arte. Se, entretanto, indagarmos bem da causa que provoca a impersonalidade em artistas de cuidados estudos e de inteligências assinaladas, acharemos como causa fundamental esses austeros princípios da arte, que tanto preocupam os críticos convencionalistas. Limitar o artista a copiar a linha da composição desse ou daquele mestre antigo, de Rafael ou de Rubens, de Leonardo ou de Rembrandt, é negar o direito do estilo, que é a afirmação da individualidade. Copiar dos mestres as obras-primas é procurar imitá-los, e a imitação não faz mais do que realçar o mérito do original. De resto, quem imita é porque não pode inventar. A composição do Episódio Militar de Campo Grande, um pouco tímida em certos pontos, é, contudo, a primeira fase desse estilo largo e vigoroso que vemos na Batalha do Avaí. Precisamos atender bem a um ponto de máxima importância. O estilo não é unicamente o toque. Uma mediocridade, como afirma E. Véron, pode ter o toque habilíssimo, e por esse fato jamais deixará de ser uma mediocridade. O estilo é o próprio artista visto através da sua obra, é o conjunto da sua obra: a expressão, o assunto, o toque, a linha e, sobretudo, a cor, é enfim o je ne sais quoi de que fala Fromentin na sua obra Les Maîtres d'Autrofois: N'y a-t-il pas dans tout artiste digne de ce nom un je ne sais quoi qui se charge de ce soin naturellement et sans effort?'".
Gonzaga Duque
DUQUE, Gonzaga. Progresso. In: ___. A arte brasileira. Campinas: Mercado de Letras, 1995. p. 151-152. (Arte: ensaios e documentos).

"Como bem enxergou Gonzaga Duque em seu romance Mocidade Morta, Pedro Américo era o protótipo do pintor oficial que sabe promover a própria arte, servindo-se de modo desinibido das instituições públicas e dos meios de comunicação. Com Independência ou Morte, apresentado em Florença em 1887, na presença do imperador e da mais alta aristocracia européia, Américo candidatava-se a vate do império; nem por isso a Academia abriu-lhe as portas. O nascimento da República ofereceu-lhe a moldura ideal para uma nova tentativa, com Paz e Concórdia, por exemplo, hoje no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Com o pano de fundo desse mesmo quadro, Pedro Américo pintou um grande edifício monumental, um templo-museu em cujo interior pode-se ver representado seu Independência ou Morte, a grande pintura histórica que representa o monumento fundador da independência brasileira. Para Pedro Américo, ser o pintor-sacerdote da nação era uma vocação. Tratava-se de um pintor digno de monumento nacional, de um Altar da Pátria todo mármore e lobas capitolinas. (...) A desmedida dimensão de suas ambições e a falta de reconhecimento público inconteste faziam dele o protótipo do gênio incompreendido representado em seu infeliz romance Holocausto, em grande parte autobiográfico. Com indubitável habilidade, que tem paralelos no desinibido historicismo de Gervez, Pedro Américo registrará seu pessimismo e sua frustração no extraordinário Tiradentes Esquartejado, do Museu Mariano Procópio de Juiz de Fora, no qual os cânones da representação heróica são sarcasticamente distorcidos, adquirindo um clima alucinante de grand-guignol".
Luciano Migliaccio
MIGLIACCIO, Luciano. A segunda metade do século. In: MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO. Arte do século XIX. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000. p. 113.

Exposições Individuais

1877 - Florença (Itália) - Expõe a obra Batalha do Avaí, no Convento da Santíssima Anunciata
ca.1880 - Rio de Janeiro RJ - Expõe a obra Batalha do Avaí, no Largo do Paço
1888 - Florença (Itália) - Obra Independência ou Morte, com a presença de D. Pedro II

Exposições Coletivas

1856 - Rio de Janeiro RJ - 1º Concurso Trimestral, na Aiba - medalha de ouro
1864 - Rio de Janeiro RJ - 16ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1865 - Rio de Janeiro RJ - 17ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1867 - Rio de Janeiro RJ - 19ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1872 - Rio de Janeiro RJ - 22ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1876 - Rio de Janeiro RJ - 24ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1879 - Rio de Janeiro RJ - 25ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - Obras mandadas de Florença, na Aiba
1884 - Rio de Janeiro RJ - 26ª Exposição Geral de Belas Artes, na Aiba
1890 - Rio de Janeiro RJ - Exposição Geral de Belas Artes, na Enba
1900 - Paris (França) - Exposição Universal de Paris
1900 - Paris (França) - Pedro Weingartner, Pedro Américo e Eliseu Visconti

Exposições Póstumas

1940 - São Paulo SP - Exposição Retrospectiva: obras dos grandes mestres da pintura e seus discípulos
1941 - Rio de Janeiro RJ - Pedro Américo e Victor Meirelles, no MNBA
1950 - Rio de Janeiro RJ - Um Século da Pintura Brasileira: 1850-1950, no MNBA
1970 - São Paulo SP - Pinacoteca do Estado de São Paulo 1970
1987 - São Paulo SP - O Brasil Pintado por Mestres Nacionais e Estrangeiros: séculos XVIII-XX, no Masp
1989 - Fortaleza CE - Arte Brasileira dos Séculos XIX e XX nas Coleções Cearenses: pinturas e desenhos, no Espaço Cultural da Unifor
1989 - Ouro Preto MG - Ideologia Inconfidente em Processo, no Museu da Inconfidência
1991 - São Paulo SP - O Desejo na Academia: 1847-1916 , na Pinacoteca do Estado
1993 - Rio de Janeiro RJ - Sesqüicentenário do Nascimento de Pedro Américo, no MNBA
1994 - São Paulo SP - Um Olhar Crítico sobre o Acervo do Século XIX, na Pinacoteca do Estado
1996 - Barra Mansa RJ - 12 Nomes da Pintura Brasileira, no Centro Universitário de Barra Mansa
1998 - São Paulo SP - 24ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1999 - Rio de Janeiro RJ - O Brasil Redescoberto, no Paço Imperial
2000 - São Paulo SP - Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento. Arte do Século XIX e Negro de Corpo e Alma, na Fundação Bienal
2000 - Porto Alegre RS - De Frans Post a Eliseu Visconti: acervo Museu Nacional de Belas Artes, no Margs
2000 - São Paulo SP - 7º Salão de Arte e Antiguidades, na A Hebraica
2001 - São Paulo SP - 30 Mestres da Pintura no Brasil, no Masp
2001 - São Paulo SP - Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
2002 - Brasília DF - Barão do Rio Branco: sua obra e seu tempo, no Ministério das Relações Exteriores. Palácio do Itamaraty
2002 - Niterói RJ - Arte Brasileira sobre Papel: séculos XIX e XX, no Solar do Jambeiro
2002 - São Paulo SP - Imagem e Identidade: um olhar sobre a história na coleção do Museu de Belas Artes, no Instituto Cultural Banco Santos
2004 - São Paulo SP - Gabinete de Papel, no CCSP

Fonte: Itaú Cultural

Veja também