Manoel da Costa Athaide

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Biografia

Manoel da Costa Athaide (Mariana MG 1762 - idem 1830)

Pintor, dourador, encarnador, entalhador.

É considerado importante artista do barroco mineiro. Em sua obra observam-se referências aos modelos das bíblias e catecismos europeus, como as gravuras de Jean-Louis Demarne (ca.1752 - 1829) e Francesco Bartolozzi (1727 - 1815). Forma com os pintores Bernardo Pires da Silva (17-- - 17--), Antônio Martins da Silveira (17-- - 17--), João Batista de Figueiredo (17-- - 17--), entre outros, a chamada Escola de Mariana. Suas obras mais destacadas são as pinturas na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Ouro Preto, realizadas entre 1801 e 1812; e as do forro da capela-mor da Igreja Matriz de Santo Antônio na cidade de Santa Bárbara, de 1806; o painel A Última Ceia, no Colégio do Caraça, executado em 1828; a pintura do forro da capela-mor da Igreja Matriz de Santo Antônio, na cidade de Itaverava, de 1811, e a do forro da capela-mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Mariana, de 1823. No período de 1781 a 1818, encarna e doura as imagens de Aleijadinho (1730 - 1814) para o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo. Segundo a crítica Lélia Coelho Frota, o artista teria utilizado seus quatro filhos como modelos para a confecção dos anjos que adornam os diversos forros e painéis por ele executados e sua esposa para a execução da madona mulata, retratada no forro da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Ouro Preto.

Comentário Crítico

Manoel da Costa Athaide destaca-se como um dos principais nomes da pintura rococó mineira do início do século XIX. A exemplo dos artistas da época, sua atividade como pintor abarca o exercício de douramento e encarnação de imagens e elementos decorativos em talha, pinturas parietais e sobre painel, mas fundamentalmente pintura decorativa de forros e tetos de igrejas. As mais antigas notícias sobre seu trabalho como artista datam de 1781 e referem-se a obras de pintura e douramento de retábulos. Contudo é já adentrando o século XIX que realiza trabalhos de vulto como, a encarnação das estátuas em madeira dos Passos da Paixão, esculpidas por Aleijadinho (1730 - 1814) e seu ateliê, o retoque da pintura do teto da nave e a pintura das Capelas dos Passos do Horto e da Prisão no Santuário do Bom Jesus dos Matosinhos, em Congonhas do Campo, entre 1799 e 1819. Seu mais bem-sucedido trabalho é novamente realizado com Aleijadinho, na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto: entre 1801 e 1812, Athaide pinta o teto da nave da capela representando como tema central a Assunção da Virgem, legando-nos um dos exemplares mais perfeitos da pintura de perspectiva do período colonial brasileiro.

Filho de portugueses, não se sabe ao certo como se dá a formação artística de Athaide. Seu pai, Luiz da Costa Athaide, aparece eventualmente nos livros de registros de Ordens Religiosas como prestador de serviços não especificados, sendo provável que tenha contribuído para a formação do filho. Segundo o historiador Carlos Del Negro, a semelhança entre as pinturas de forro de João Batista de Figueiredo (17-- - 17--) e Athaide indicam que o primeiro teria sido mestre do segundo. Entretanto outros nomes aparecem associados ao pintor, como o de João Nepomuceno Correia e Castro (17-- - 1795), autor, entre outras, da pintura da nave do referido santuário (1777-1784) e de Antônio Martins da Silveira (17-- - 17--), autor da decoração pictórica do teto da capela-mor do Seminário Menor de Mariana (1782). Ambos figuram como introdutores do estilo rococó em Minas Gerais, cuja primeira fase na pintura abrange o período entre os anos de 1770 e 1800. Não se sabe ao certo quem foram os mestres do pintor mineiro, tem-se conhecimento, entretanto, da figura de Athaide como mestre. Em 1818 recebe do Senado da Câmara de Mariana atestado de professor das "Artes de Arquitetura e Pintura". Com ele, dirige-se a Dom João VI (1767 - 1826) a fim de pleitear, sem sucesso, a criação oficial da "Aula de Desenho de Arquitetura Civil e Militar e da Arte da Pintura" em sua cidade natal.

Como os artistas-artesãos da época, Athaide segue cânones importados de Portugal. Em geral, as cenas a serem executadas eram copiadas de gravuras e estampas de missais e livros sagrados, sendo o artista responsável apenas pela adaptação da imagem ao espaço e aos recursos técnicos disponíveis. Por exemplo, no caso dos seis painéis imitando azulejo (executados entre 1803 e 1804), que representam cenas da vida de Abraão e decoram a capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Athaide copia seis gravuras de uma edição francesa da Bíblia ilustrada por Demarne. Tal fato não representa demérito nenhum ao artista colonial, pois seu talento se revela exatamente na sabedoria com que faz tal transposição, simplificando as composições originais a fim de adaptá-las ao reduzido espaço. Em comparação com elas, percebe-se um caráter intimista no tratamento das cenas e uma maior expressividade do desenho, que elimina o aspecto solene presente no modelo. Essa linha expressiva que tende a criar corpos volumosos e lânguidos, que quase não conhece ângulos retos e transforma a anatomia dos corpos em traços curvos, é uma das características mais marcantes da obra de Athaide.

No que diz respeito à pintura de perspectiva de forro, o artista mineiro segue esquema de inspiração rococó elaborado em meados da segunda metade do século XVIII, em Minas Gerais: medalhão em forma de "quadro recolocado" emoldurado de rocalhas e colocado no centro do teto, sendo sustentado por maciços elementos arquitetônicos (pilastra, coluna, arco e frontão curvilíneo), que assentam na parte média das paredes reais da igreja. O espaço arquitetônico ilusório tende a ser recheado de anjos, figuras bíblicas, concheados, laçarias, ramalhetes de flores e outros motivos delicados que se prendem uns aos outros por curvas e contracurvas, dando leveza e ritmo à totalidade da composição. Do mesmo modo, a paleta do artista, rica em tons de vermelho, azul, branco, amarelo, sépia e marrom, deve ser compreendida segundo os padrões do período. O alto valor artístico de Manoel da Costa Athaide encontra-se na superioridade técnica de suas realizações, marcadas pelo perfeito desenho de perspectiva e corpos em escorço, pela harmonia cromática e pelo já citado desenho altamente expressivo. No entanto, o artista também ficou conhecido por seus anjos e virgens mulatos, cuja inspiração teria encontrado em sua companheira e seus filhos.

Críticas

"Olhada em conjunto, a pintura do Athaide exibe a elegância e leveza do rococó, porém manifesta um gosto pela grave expressão de sentimentos e uma aspiração ao ar livre da paisagem que são sincrônicas à de Constable e Friedrich, seus contemporâneos. Como a de todo artista de boa envergadura a obra de Athaide, em última análise, não se deixa prender a rótulos de escola ou de períodos. Transcende-os, é contemporânea de si mesma. Talvez por abrigarem tantas contradições obra e indivíduo, como essas que vamos apontando, é que a primeira tenha ficado com tão grande poder de alcance. (...) O conjunto da obra de pintura do Athaide deixa perceber um espírito de intelectual liberal, talvez agnóstico. (...) Inserido no complexo fenômeno de mudança social do período em que viveu, Athaide não só corporificou em sua obra a extraordinária e original feição do barroco mineiro na passagem da primeira para a segunda metade do século XVIII, como também deu sinal de tomar consciência, já em pleno século XIX, de uma ideologia que, em arte, cada vez mais valorizava a atuação do indivíduo e o papel da autoria e do fazer criador como veiculadores do belo desinteressado, postura que se iniciara na ruptura da Renascença com a mentalidade medieval".
Lélia Coelho Frota
FROTA, Lélia Coelho. Vida e trabalho de Manuel da Costa Ataíde. In: ATAIDE: vida e obra de Manuel da Costa Ataíde. Texto Lélia Coelho Frota. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 29.

"ALFERES de milícias Manoel da Costa Athaide: eu, paisano, bato continência em vossa admiração. 
Há dois séculos menos um dia, contados na folhinha, batizaram-vos na Sé da Cidade Mariana, mas isso não teria importância nenhuma se mais tarde não houvésseis olhado ali para o teto e reparado na pintura de Manuel Rabelo de Sousa. O rumo fora traçado. Pintaríeis outras tábuas de outros tetos ou mais precisamente romperíeis o forro para a conversação radiante com Deus. 
Alferes que em São Francisco de Vila Rica derramais sobre nós no azul-espaço do teatro barroco do céu o louvor cristalino coral orquestral dos serafins à Senhora Nossa e dos Anjos; repórter da Fuga e da Ceia, Testemunha do Poverello, dono da luz e do verde-veronese, inventor de cores insabidas, a espalhar por vinte igrejas das Minas 'uma bonita, valente e espaçosa pintura': em vossa admiração bato continência. 
E porque ao sairdes de vossa casinha da Rua Nova nos fundos do Carmo encontro-vos sempre caminhando mano a mano com o mestre mais velho Antônio Francisco Lisboa e porque viveis os dois em comum o ato da imaginação e em comum o fixais em matéria, numa cidade após outra, porque soubestes amá-lo, ao difícil e raro Antônio Francisco, e manifestais a arte de dois na unidade da criação, bato continência em vossa admiração".
Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, Carlos Drumond. Ataíde. In: ATAIDE: vida e obra de Manuel da Costa Ataíde. Texto Lélia Coelho Frota. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 9.

"Na região de Ouro Preto e Mariana, entra em cena nos primeiros anos do século XIX o alferes Manoel da Costa Athaide, que nos legou o melhor quinhão das pinturas de forro do mais fino gosto rococó, com suas figuras amulatadas, embora o pintor fosse branco e de família de origem portuguesa. Foi pintor de prestígio em sua época, aparecendo em documentos 'como professor de arte e pintura'. Executou para os terceiros franciscanos de Ouro Preto uma vasta decoração que culmina com o forro da nave (1801-1812), em colorido vivo com azuis e vermelhos, em que a trama arquitetônica ganha leveza diluída nos concheados recortados, flores e anjos a sustentar a enorme tarja onde a Porciúncula aparece glorificada entre anjos músicos e cantores em profusão. Nos púlpitos assomam as figuras dos doutores da igreja. Além do forro, são de Athaide obras da capela-mor imitando azulejo, os quadros da nave, policromia do retábulo e outros detalhes. Em outros forros menores Athaide criou espaços dinâmicos, muito coloridos e luminosos, como nos dois belos tetos das matrizes de Santo Antônio em Santa Bárbara e Itaverava. O primeiro representa a ascensão do Senhor, em suave moldura rocaille sustentada por colunas, e o segundo representa a coroação da Virgem pela Trindade Divina, sustentada por vigorosas arcadas com pilastras e colunas caneladas. O Teto do Rosário de Mariana, embora muito danificado, guarda o estilo do mestre. Além dos forros de perspectiva, Athaide deixou pinturas de retábulos, quadros em forros, como os de São Francisco de Mariana, e pintura de cavalete, como a Ceia do Caraça, datada de 1828, o Batismo de Cristo na Sé marianense, os quadros de Via-Sacra e santos diversos".
Olinto Rodrigues dos Santos
PINTURA Colonial. Apresentação Ernest Robert de Carvalho Mange; texto Frederico Morais, Lélia Coelho Frota, José Roberto Teixeira Leite. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1994. p. 10. (Cadernos história da pintura no Brasil, 7).

Acervos

Capela da Fazenda Boa Esperança - Belo Vale MG
Catedral de Nossa Senhora da Assunção - Mariana MG
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco - Mariana MG
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco - Ouro Preto MG
Igreja de Nossa Senhora do Rosário - Mariana MG  
Igreja de São Francisco de Assis - Ouro Preto MG
Igreja de São Miguel e Almas - Ouro Preto MG
Igreja Matriz de Santo Antônio - Itaverava MG
Igreja Matriz de Santo Antônio - Ouro Branco MG
Igreja Matriz de Santo Antonio - Santa Bárbara MG
Museu Arquidiocesano de Arte Sacra - Mariana MG
Museu da Inconfidência - Ouro Preto MG
Museu Histórico do Colégio do Caraça - Santa Bárbara MG

Exposições Póstumas

1979 - Belo Horizonte MG - 6º Salão Global de Inverno, na Fundação Clóvis Salgado
1986 - Belo Horizonte MG - As Seis Telas de Athaide, no Museu Mineiro
1998 - São Paulo SP - O Universo Mágico do Barro Brasileiro, na Galeria de Arte do Sesi
1999 - Paris (França) - Brésil Baroque: entre ciel et terre, no Musée des Beaux-Arts de la Ville de Paris

Fonte: Itaú Cultural

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