O Brasil dos anos 20 sob os olhos de Tarsila do Amaral

TARSILA

Não é difícil saber como foi o brasil na década de 20, basta olhar as pinturas de Tarsila do Amaral. Apesar de ser considerada uma pintora caipira, que resgatava em suas telas a cultura popular, também retratou o progresso da cidade através de representações como descreve o próprio Assis Chateaubriand “Ela procurava em sua arte oferecer uma representação plástica da época em que foi chamada a agir. O São Paulo novo, que está crescendo, a força do industrialismo triunfante era um assunto à espera do pintor. Tarsila está sendo a artista da civilização mecânica, dos homens-máquina…”*

É possível acompanhar as mudanças que ocorreram no país através das telas da pintora.

O Percador - óleo sobre tela, 66 x 75 cm.
O Percador – óleo sobre tela, 66 x 75 cm. 1925

Na pintura intitulada “O pescador” de 1925, mostra um vilarejo as margens de um rio, com casas baixas em meio a vegetação e o homem que vive da pesca. Os tons claros e a predominância do verde mostram um país tropical caipira, sossegado e que vive em harmonia com a natureza.

Morro da Favela - óleo sobre tela, 64 x 76 cm.
Morro da Favela – óleo sobre tela, 64 x 76 cm. 1924

Agora na pintura “Morro da Favela” de 1924 a ambientação está as margens da grande cidade onde cresce a favela. Casas construídas deliberadamente sob um solo cheio de altos e baixos, contato direto com a vegetação, animais selvagens e domésticos (o cachorro que fareja). As pessoas representadas são negras, pois com o fim da escravatura essas pessoas não tinham condições de morar no centro da cidade, com isso eles acabaram criando favelas.

E.F.C.B. - óleo sobre tela, 142 x 127 cm. 1924
E.F.C.B. – óleo sobre tela, 142 x 127 cm. 1924

O Quadro “E.F.C.B.” de 1924, é característico do progresso, porque? Primeiro é possível perceber que as casas continuam iguais às casas dos quadros anteriores, mas isso não significa que seus donos sejam os mesmos. Neste caso essas casas pertencem aos comerciantes e aos fazendeiros que também queriam morar no centro da cidade. Pode-se observar que a figura da igreja que se estende no alto mantém a ideia de que, antes de ser uma cidade do progresso, São Paulo já foi um vilarejo. A vegetação afirma também que a cidade estava se construindo em meio as lembranças do seu estado natural antes da intervenção do homem. Nessa pintura o grande representante do progresso é o ferro, junto com o asfalto. Com a chegada da industrialização e a manipulação do ferro foi possível construir carros, pontes, postes, antenas e sinalizadores. São essas figuras que representam a situação de São Paulo na década de 20.

La Gare - óleo sobre tela, 84,5 x 65 cm. 1925
La Gare – óleo sobre tela, 84,5 x 65 cm. 1925

Seguindo essa linha de raciocínio o quadro “La Gare” de 1925 mostra uma situação mais caótica, onde a natureza perde espaço para a chegada do trem, o grande responsável pelo transporte de café da época. Vê-se ao fundo uma chaminé de uma indústria que abrigava muito trabalhadores, e no canto direito Tarsila pinta uma novidade tanto para a tela quanto para a própria cidade que foi a iluminação pública. Para amenizar essas construções caóticas e sufocantes, Tarsila utiliza uma paleta de cores parecida com as dos quadros mais caipiras, um tanto eufemista pois a cidade cresce sob os tons de cinza.

Operários - óleo sobre tela, 150 x 205 cm. 1933
Operários – óleo sobre tela, 150 x 205 cm. 1933

Por fim uma grande representação do que foi a década de 20 está no quadro “Operários” de 1933, que mostra cabeças dos operários da indústria representada ao fundo. Esse quadro mostra o lado humano do progresso, pois essas figuras feitas por Tarsila são imigrantes que vieram de países da Europa em busca de trabalho, porém na face de cada um não está estampada a felicidade de uma cidade do progresso, pois sua situação atual é apenas de trabalho.

É imensa a importância de Tarsila do Amaral como artista plástica brasileira. Com seu estilo de pintura se portou como observadora daquilo que estava acontecendo em sua época, cada obra representa uma observação, como se a artista parece em determinado lugar e pintasse aquilo que estava a sua frente.

 

*Retirado do livro “Tarsila do Amaral” de Aracy Amaral, Fundação Finambrás, à p. 11.