“Bichos”, a obra viva de Lygia Clark

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Podemos considerar a série “Bichos” a melhor produção artística feita por Lygia Clark, mas para entendê-los é preciso conhecer os motivos de sua pesquisa visual e suas produções anteriores à série.

Criado já o grupo Neoconcreto no Rio de Janeiro, as pesquisas tomam como ponto de partida a geometria suprematista de Malevich (1879-1935),  também utilizada pelo Concretistas de são paulo, porém com um cunho mais emocional. E 1959 Lygia começa a criar quadros onde sua intenção era ultrapassar os limites da superfície, por vezes até mesmo a moldura do quadro era pintado para fazer parte da obra. Levaram o nome de”Unidades”. Nessas obras a artista exercitava a criação da “linha orgânica”, uma linha virtual que surgia com a aproximação ou até mesmo a sobreposição de formas simples como um quadrado.

dfgdlygia2Depois disso, e ainda com a ideia de superar a superfície, Lygia no mesmo ano cria os “Casulos”, que eram feitos de metal possibilitando que fossem dobrados e criando uma tridimensionalidade na obra.

Lygia-Clark-Casulo-Cocoon-No.-2-250-350k-437kEssas obras possibilitaram a criação da série “Bichos”, sendo que as formas das esculturas eram simples e geométricas onde cada parte eram aproximadas com dobradiças, criando a ideia de linha orgânica. A partir desse ponto o expectador passa a ser figura atuante para a obra, e a intenção não era criar formas que se pareçam com verdadeiros animais, mas sim que essa linha orgânica, essa profundidade dos planos e essas forma transformadora obtivesse a característica de obra viva, atuante.

“um organismo vivo, uma obra essencialmente atuante. Entre você e ele se estabelece uma integração total, existencial. Na relação que se estabelece entre você e o Bicho não há passividade, nem sua nem dele” – LYGIA CLARK – 1960

Apesar de não ser uma obra efetivamente “cubista”, a série Bichos teve melhores resultados cubistas que a escultura Guitarra (1912-1914) de Pablo Picasso. Com esta série, Lygia torna-se uma das pioneiras na arte participativa mundial. Em 1961, ganha o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo, com os “Bichos”.